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ARGUMENTO DO CANTO OITAVO

Vê o povinho pintados aquelles que o pintam; põe-se a calva á mostra a varios safardanas; contam-se-lhes as mazellas e applicam-se varias ventosas, que naturalmente não pegam; cai a militança de cangalhas; arma-se a egrejinha; D. Fufia entoa a sua loa; entra um frade em scena; sai pela porta do fundo; corre-se o panno; depois de varios jogos malabares, faz-se a reprise de uma peça antiga.

OUTRO ARGUMENTO

Vêem-se da Lusitania os corruptores
Que na historia ficaram mais famosos;
De altos castigos são merecedores;
Dão-se-lhe alguns, mas pouco proveitosos;
Arma-se a intriga atraz dos bastidores;
Não os faz o fradepio mais geitosos;
Diz Dona Fufia cousas importantes,
E outra vez fica tudo como d'antes.

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CANTO OITAVO

I

Na primeira figura se detinha
A turba popular embasbacada,

Que um papel por divisa na mão tinha,
A barba crespa e a vista arregalada.
«Quem era e por que causa lhe convinha
A divisa que tem na mão tomada?»
Responde o orador, com voz discreta:
«Este era mais velhaco que pateta.

II

«Estas figuras todas que apparecem,
Caras de monos em humanos peitos,
Podem gabal-os os que os não conhecem ;
D'elles me rio eu e dos seus feitos.
Malandros são que á custa alheia crescem,
Famosos intrujões, maraus perfeitos.
Este que vês é mano do que a fama
Chefe dos burros, caceteiro chama.

III

«Foi filho de uma... que, se não me engano,
A morte deu a quem a desposou;
Andando em suja briga contra o mano
Na praia dos ladrões desembarcou.
De imperador com o nome todo ufano
Pela America e Europa passeou;
Na patria veiu emfim deixar os ossos
Que não valem de certo dois tremoços.

IV

«O papel que lhe vês para divisa
Uma intrujice foi que ao mais pintado
Forçou a dar a ultima camisa

Para no throno o pôr tão cobiçado.
Vês outro, que do Douro a terra pisa,
Depois de ter ás balas escapado;
Alli soberbos paços edifica,

E a mãe vende em Lisboa fava-rica.

V

«Este é o que roubou a santa casa E se cobriu da nodoa mais immunda. Este as adegas do bom vinho abraza Com que de ardente chamma a agua inunda.» «Quem será est'outro cá, que o campo arrasa De mortos com presença furibunda?» «Esta é das firmas mais desvergonhadas Que sobre estes paineis estão pintadas.

VI

«Com mais presteza o sangue aos seus derrama Do que o pastor o leite ao femeo gado. Sabemos todos nós como se chama;

Não lhe quebrarem os ossos com um cajado! Injuriada tem da patria a fama,

Vencedor invencivel, afamado;

Os que depois das guerras o soffreram
Um logar entre os santos mereceram.

VII

«Com mão armada a terra infortunosa,
Que o ser lhe deu, devasta, assola e espanta.
Era um homem só bom para dar tosa,
Sem se importar se a causa é má`ou santa.
Outro está aqui que, quando o da Sabrosa
Com honra cai, mais torpe se alevantą:
Escolheu bem com quem se alevantasse
Para que só borrado não ficasse.

VIII

«Vês com manha depois vence as bandeiras Que no Minho se hasteiam aguerridas,

Que já n'aquelle tempo as ladroeiras
Eram do pobre povo abhorrecidas.
Olha tão subtis artes e maneiras
Para adquirir os povos, tão fingidas,
A fatidica cabra, que o avisa:
Elle é da costa, e ella a sua divisa.

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