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LENDAS DO SUL

CONFERENCIA REALISADA A 22 DE SETEMBRO DE 1915

PELO SR. ALCIDES MAYA

(Deixa de ser inserta

a conferencia, por não terem sido recebidos

os originaes).

ALGUMAS MOLESTIAS PRODUZIDAS POR PROTOZOARIOS

CONFERENCIA REALISADA A 5 DE OUTUBRO DE 1915, PELO DR. OSWALDO CRUZ

Minhas senhoras! Meus senhores !

Não pretendo fazer aqui prelecção sobre molestias produzidas por protozoarios. Isto nos levaria muito longe e só em successivas dissertações conseguiria tratar do assumpto.

Acudindo ao tão delicado quão honroso convite do Sr. Dr. Director da Bibliotheca Nacional, que exigio de mim o infligir-lhes o martyrio desta conferencia, proponho-me apenas a fazer rapida resenha do que de peculiar a nosso paiz, apresentam algumas molestias produzidas por esses agentes morbigenos: OS protozoarios, e quero, sobretudo, salientar o que tem sido feito de original entre nós: encarecendo, assim, a contribuição brasileira para o progresso desse ramo da pathologia.

Não me foi exigido dar o caracter popular a esta conferencia, e, por isso, não me afastarei da technologia scientifica costumaria.

Na exposição resumida e succinta que vou fazer, não obedecerei á classificação zoologica dos protozoarios, e encararei tão sómente as molestias por elles produzidas, de accôrdo com a importancia que assumem relativamente ao Brasil. Estudarei tão sómente as molestias humanas.

De novo frisarei que não pretendo estudar o assumpto de modo geral e exhaustivo. Vou apenas assignalar aquillo que de novo tem sido addicionado ao acervo da sciencia, por nossos pesquizadores, não no terreno clinico, mas, primacialmente, no que respeita á etiologia, prophylaxia e, ás vezes, ao tratamento; só fazendo incursões em outros departamentos da medicina, quando isso se tornar em absoluto necessario para clareza da exposição ou para accentuar factos aqui adquiridos e de cunho inteiramente nosso.

Vou começar dizendo algo sobre o impaludismo, que é das molestias causadas por protozoarios a que assume maior importancia para o Brasil. Com effeito, responsavel pela principal insalubridade da Amazonia, estende-se pelo Brasil afóra assolando zonas inteiras, ora acompanhando o curso dos rios, como o Amazonas e seus affluentes, o S. Francisco e Paraopeba, o Doce, para não

citar senão dentre os de mais negregada fama, ora se elevando até ás alturas das serras, como a de Cubatão, em S. Paulo.

No que respeita á etiologia do impaludismo, temos que assignalar alguns factos que nos são peculiares e de importancia assás consideravel e que estão a desafiar mais aprofundados estudos, que só podem ser inteiramente proveitosos quando levados a effeito "in loco".

Todos os typos de plasmodio da malaria são encontrados entre nós, com predominancias regionaes de alguns sobre os outros e, não raro, as infecções mixtas, que se superpõem, vêm trazer difficuldades ao diagnostico especifico da infecção.

O que, porém, de mais peculiar existe aqui é a presença de certo aspecto, que se approxima sobre modo ao da quartã, e da qual ostenta, porém, certas differenças que poderiam, talvez, autorizar a que se pense em nova fórma. Esse parasito foi visto por Carlos Chagas, no Acre, impressionado pela abundancia da quartã, fórma relativamente rara do parasito do impaludismo em certas regiões da Amazonia, prestou e dedicou a elle attenção especial, e, se não conseguio colligir elementos que autorizem fundamentar nova especie de parasito da malaria, ao menos os reunio bastante para que esteja autorizado á supposição de variedade do plasmodio da quartã.

Mas o que dá mais corpo á supposição de nosso collega é que o impaludismo nessa zona assume feição clinica não habitual em outras regiões brasileiras e mostra um conjuncto symptomatico sui generis, que autorizou aos clinicos dessas inhospitas regiões a se referir a determinadas fórmas de beri-beri que denominaram fulminante, galopante, etc. Essas fórmas especialmente graves do impaludismo, seguidas não raro da morte, deram origem ás versões mais fantasticas e assustadoras sobre a pathologia amazonica. Com effeito, a discordancia entre a symptomatologia apontada e o que ha corrente sobre o quadro classico do impaludismo, de um lado, e doutro lado o alto indice mortuario, consequencia da improficuidade da therapeutica, oriunda do desvio de diagnostico, explicam, até certo ponto, o caso em que mergulhava o assumpto. Foi necessario que o microscopio destrinçasse a questão e viesse acabar com esse fantasma dos alagadiços amazonicos.

Vejamos quaes as caracteristicas microscopicas do parasito e o aspecto do quadro clinico pelo qual é elle o responsavel.

As fórmas evolutivas intraglobulares do plasmodio apresentam cromatina nuclear em quantidade evidentemente maior que no protozoario tipico da quartã. Nelles é sempre possivel observar certa porção differenciada de cromatina sob a fórma de granulo regularmente cspherica, ou então de pequena massa que se córa de vermelho intenso pelo Glerasa. O pigmento do hematozario se apresenta sob a fórma de bastonetes de dimensões maiores que no parasito da terça benigna. Os movimentos do protozoario são bem apreciaveis, mas não tão activos quanto os do agente causador da terça benigna. Mais accentuadas são as differenças nas fórmas de divisão que se encontram no sangue peripherico. Os merozoitos, collocados irregularmente sem o aspecto irradiado tão frequente no Plasmodium malarioe, mostram a cromatina nuclear sob a fórma de granulo arredondado e não de massa mais ou menos irregular, como sóe acontecer com o productor da quartã. Além disso, contrariamente ao

que acontece, as mais das vezes, na quartă, as fórmas segmentadas são sempre extraglobulares, menores, e apresentam quasi constantemente 10 merozoitos. Outrosim, o numero de parasitos no sangue peripherico dos doentes é bastante abundante, o que contrasta com a quartã, onde o numerc delles é bem limitado. As alterações das remáticas se approximam aqui muito mais das descriptas como occasionadas pelo plasmodio da tropical. Os globulos vermelhos parasitados soffrem consideravel reducção de volume; observa-se tambem abaixamento no valor globular do sangue. Nas fórmas jovens, em annel, é digna de nota a grande quantidade de cromatina. Os organismos sexuaes deste protozoario encontrados no sangue peripherico, ás vezes em abundancia, são muito semelhantes aos da quartã, delles se differenciam pelas menores dimensões e, ainda, pela maior abundancia da cromatina.

No ponto de vista clinico, bem se distinguem os doentes atacados por esse parasito dos victimados pelas fórmas habituaes do agente da malaria. A quasi totalidade dos infectados aqui apresentava edema pre-tibial mais ou menos intenso, em alguns bastante accentuado e em outros com generalização maior no tronco e membros superiores. Não se tratava seguramente dessas discrasias consecutivas á malaria chronica. Em muitos doentes a infecção era chronica. Em poucos dias e já ostentavam elles consideraval edema, que, segundo a anamnese, fazia seu apparecimento logo após o primeiro accesso febril.

Outro ponto que sobreleva em importancia para nós é o da transmissão do impaludismo.

E' facto inconcusso o da transmissão culicidiana da malaria. E' verdade adquirida serem os mosquitos da sub-familia das Anophelinae os transmissores da molestia. Esse facto, porém, exposto dessa fórma, não basta quando se quer aprofundar a questão e buscar nella os ensinamentos que têm de orientar a pratica, quando se faz mister de lançar mão dos dados scientificos que têm de orientar aquelle a quem foi commettida a tarefa de fazer a prophylaxia da malaria.

Mister se faz em primeiro lugar o conhecer a fauna anophelinica local. E, no Brasil, essa questão já foi exhausta, mercê dos estudos cuidadosos de uma serie de pesquizadores nacionaes, que tiveram como pioneiro aquelle cujo nome tem de ser repetido amiude no decurso desta palestra, envolto sempre do respeito e da admiração de que se tornou credor pelo acervo enorme de pesquizas com que tem enriquecido a medicina experimental no Brasil: quero referir-me ao Dr. Adolpho Lutz.

Essas observações relativas á biologia e systematica das anophelinas brasileiras e suas relações com o impaludismo foram minuciosamente estudadas em cuidadoso trabalho do Dr. Arthur Neiva, que colligio e poz no ponto esse! importantissimo assumpto, que tão de perto entende com a prophylaxia do impaludismo.

Por esse cuidadoso estudo ficou demonstrado que, dentre as anophelinas existentes no Brasil, são transmissoras já provadas de impaludismo as especies Cellia albumana e Cellia argyrotarsis. Além dessas, ficou entre nós demonstrado serem tambem transmissoras as seguintes especies: Arribalzagaia pseudomaculipes e Cyclolepteron intermedium (Neiva e Ladislau). Os factos levam

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