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é molestia de marcha chronica, lenta, e as suas epidemias não podem ser combatidas visando OS resultados rapidos que se podem esperar do combate ás epidemias de molestias agudas, como a febre amarella, a variola ou a diphteria.

Mas nós, o que não podemos obter de chôfre, logo dizemos que é inattingivel. Vivemos sempre em busca do passaro azul que nunca se apanha, e desprezamos os caminhos já trilhados, e pelos quaes a perseverança, a continui. dade, e a energia suave nos conduziriam á victoria, como vão conduzindo outros povos empenhados na mesma porfia.

O que fez já o Congresso para a tuberculose? Propoz um premio avultado para o que descobrisse o remedio milagroso que curasse os doentes. Curados os doentes, desappareceria a molestia; não havia necessidade de se gastar dinheiro com a sua prophylaxia. Ahi está o passaro azul que nunca se apanha., Não se descobrem remedios curadores, de encommenda; dos poucos que possuimos, nenhum foi assim descoberto; e em molestia tão complexa como a tuberculose, não é possivel esperar essa descoberta no estado actual dos nossos conhecimentos. Depois, a cura da molestia infectuosa não supprime a sua prophylaxia; não supprimio nenhuma até hoje, daquellas cujos methodos curadores já foram encontrados. Não entrarei no commentario deste ponto; seria longo demais. Mas essa é a verdade.

E esperamos pelo milagre, que seria pago a peso de dinheiro. isso, a tuberculose vai matando impiedosamente.

Emquanto

Fallou-se, ha um mez atraz, nos perigos da propagação da lepra entre nós, e logo surgio outro gesto analogo propoz-se um premio para quem The descobrisse o remedio. Pois não seria mais pratico empregar contra a nossa lepra o mesmo remedio efficaz que a vai erradicando de outros paizes o isolamento do leproso? Não, senhores, queremos a cousa nova e nunca vista. E esperamos. inertes.

Que fazer então contra a tuberculose, dir-se-ha ?

Senhores, perdoi-me a repetição. Ella é necessaria.

Como toda molestia infectuosa, a tuberculose, para desenvolver-se, depende de tres factores o bacillo virulento e em quantidade sufficiente, o homem receptivo, e a opportunidade infectante; quer dizer, a semente viva e bastante, o terreno apropriado e a occasião opportuna. Sem a semente não póde haver germinação; sem o bacillo tuberculoso, não ha tuberculose. E no particular prophylaxia, é necessario ainda que os bacillos que se introduzem no organismo sejam em numero sufficiente para vencer-lhes os meios naturaes de defesa.

Lançai a semente em terreno ingrato, ella não germinará, ou dará planta abortiva e enfezada.

Em relação á tuberculose, a resistencia do organismo, isto é, a boa saude do corpo, representa papel importantissimo para baldar a infecção; o homem sadio e forte é o terreno a mais não ser ingrato para a proliferação do bacillo. Porém tal resistencia não é sufficiente, e taes sejam as cargas infectantes que receba e a tantas opportunidades de apanhar o bacillo se exponha esse homem forte, que o bacillo o vencerá tambem. Dahi a necessidade de evitar as occasiões do contagio possivel, isto é, as opportunidades infectantes.

Taes são os tres factores essenciaes da infecção tuberculosa, que marcam as direcções segundo as quaes, deverá ser norteado o combate á pestilencia, a saber: prevenir a infecção, avigorar o corpo humano, evitar o contagio. A principal fonte do germen da tuberculose é o homem tuberculoso, e,

neste, predominantemente, a tuberculose pulmonar. A outra fonte de disseminação do bacillo é o leite tuberculifero, porém esta entra por muito pouco no computo dos contagios, e por esta via é facilimo atalhar a infecção simplesmente pela esterilização do leite, ainda que o ideal seja tambem extinguir a tuberculose do gado.

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De modo que o nosso primeiro esforço, que será, ao mesmo passo, o mais valioso, deve ser destruir o bacilo que o tuberculoso elimine, o que se consegue pela desinfecção, pela limpeza, pela luz do sol; e isolar o tuberculoso, isto é, collocal-o em condições que, sendo favoraveis á sua cura e ao seu bem estar, o impidam de disseminar o microbio da sua infecção.

E' mais facil dizel-o do que fazel-o, bem o sei; mas tambem podeis estar certos que este fazel-o é muito mais facil do que se pensa e do que parece. Por onde o tuberculoso pulmonar elimina o seu bacillo? Pelo escarro. Pois ahi o ponto está em fiscalizar o tuberculoso para que elle não espalhe a esmo o seu escarro, e educal-o nos principios da hygiene antituberculosa, para que elle saiba tornar-se inocuo para os seus semelhantes. O tuberculoso hygienicamente educado e docil, é, com maior conforto para si, um tuberculoso inocuo, e está por si mesmo hygienicamente isolado onde quer que permaneça. E para isso não é preciso mais do que a obediencia, a preceitos poucos e simples de executar.

Para os tuberculosos pobres, o meio sem par de isolal-os e tratal-os é recolhel-os aos hospitaes e sanatorios, que não temos, mas que poderiamos ter, á razão pelo menos de um por anno, se Governo e povo dessem á vida humana, como capital, o valor minimo em que ella póde ser estimada.

Para os abastados e os ricos, ainda que lhes é melhor tambem o sanatorio e o hospital, é facil curar delles em suas proprias casas.

Mas emquanto não temos o sanatorio e o hospital, emquanto pensamos nelles, como numa miragem, não vamos deixar o tuberculoso morrer á mingua, nem vamos deixar que a pestilencia vá estendendo, muito a seu salvo, sobre nossa familia, nossos filhos, nosso povo, o sudario branco da morte lenta e sem remedio, e a rêde torturante do enfraquecimento physico, com todas as suas mazelas.

Quanto ao Governo, dentro dos seus orçamentos habituaes, quanto aos particulares, dentro dos seus haveres e capacidades activas, muito ha que fazer em prol da prevenção da tuberculose.

A questão é unir os esforços e achar alguem que os dirija com direcção entendida.

Por que não poderiamos fazer o que os outros povos estão fazendo? Neste quadro, a cidade do Rio de Janeiro está comparada, em relação á mortalidade tuberculosa, com 30 outras cidades, ella é a de maior mortalidade. Maior que as de Haya e Amsterdam, maior que as de Hamburgo, Berlim, Dresde, Munich, Vienna, Praga; maior que as de Londres, Dublin, Belfast, maior que a de Copenhague, maior que a de Petrograd, maior que as de Chicago, Boston, Philadelphia e Nova York, maior que a de Buenos Aires, maior que a de Montevidéo... maior que todas.

Será que nessas cidades ha menos sementes tuberculosas do que aqui? Não. Haveria até mais. Porém nellas a pestilencia foi e continúa combatida aporfiadamente.

Por que não poderiamos, desde já, isolar os tuberculosas pobres e em ultimo periodo, que são os mais perigosos?

Por que não poderiamos, anno a anno, sem esbanjamentos, nem deshonesti

dades, ir construindo hospitaes e sanatorios, quando o dinheiro ahi existe para tudo, para o luxo, para o superfluo, para o desperdicio, para a burla?

Por que não poderiamos fiscalizar e educar os tuberculosos em suas casas ? Por que não poderiamos conseguir a cooperação das associações particulares de beneficencia, com os esforços do Governo?

Por que não conseguiriamos a educação anti-tuberculosa do povo, quando do pobre povo se consegue tudo o mais que se quer verdadeiramente?

Por que não poderiamos fazer a regulamentação do escarro, quando outras mais vexatorias se fazem e se executam?

Regulamentação do escarro... Parecer-vos-ha extravagante a phrase. E', porém, a phrase verdadeira, não é minha; vem dos paizes de lingua ingleza. Todos os nossos direitos são regulamentados por lei. Tudo o que torna a existencia valiosa para alguem está sob a dependencia de restricções aos actos de outrem.

No que respeita propriamente a si mesmo, a independencia do homem é, por direito, absoluta. Sobre o seu corpo e o seu espirito o individuo é soberano. Porém esta soberania desapparece, desde que entramos na esphera das relações do individuo com os seus semelhantes, com a sociedade.

E' principio de direito e de moral que a sociedade está autorizada a interferir na liberdade de seus membros quando o motivo é a protecção de si mesma. E ella o faz sem cerimonia. Regulamenta tudo, até o modo de cada um dispor de sua fortuna, regulamenta O vestuario e O mesmo amor regulamenta... Não póde haver vida social sem disciplina, e sem a regulamentação da liberdade de cada um, em beneficio de todos.

Criticando seus compatriotas francezes, na introducção ao seu tratado' de hygiene, o Professor Julio Courmont, lembra-lhes que o futuro pertence aos povos scientificos e disciplinados. Nenhuma verdade mais verdadeira. Haja vista a Allemanha: primeira na disciplina, primeira na sciencia, primeira na hygiene, primeira na industria, primeira no commercio, primeira na força, primeira na saude, primeira na guerra... Porque cria na sciencia e sujeitou-se á disciplina. Povos negligentes e praguentos, só para a servidão e a decadencia, não importa sejam intelligentes ou tenham bravura.

Não vos pareça que eu esteja, talvez, a remontar a alturas em disparate com este assumpto da prophylaxia da tuberculose; o assumpto é dos maiores, e nelle, como em todos os nossos males sociaes, a causa nefasta está na ignorancia ou no desprezo da sciencia e na falta de disciplina.

A regulamentação do escarro não é, pois, um absurdo, nem uma violencia, como o não são as outras; nem devemos temer o ridiculo que possam espiritos pêcos descobrir no assumpto ou na expressão.

Não é tão pouco impossivel conseguir que a rejeição do escarro se faça hygienicamente.

Na intensa Nova York, passam pelos corredores dos grandes hoteis, diariamente, para mais de 20.000 pessoas; nas suas ferro-vias subterraneas transitam, diariamente, muitas vezes 200.000 pessoas; é prohibido escarrar nesses lugares, não se vê um cuspo! E sabeis que é quasi proverbial o asserto de que nos Estados Unidos da America do Norte a liberdade do cidadão é a maior que se conhece no mundo civilizado.

De uma cousa nos precisamos convencer: se a fonte principal da epidemia tuberculosa é, como na verdade é, o tuberculoso pulmonar; se neste o bacillo se elimina pela expectoração; supprimindo o perigo contagionante do escarro, supprimida estará a tuberculose na sua fonte principal. "No spit, no con

sumption", dizem os yankees.

A fiscalização adequada da espectoração e do destino final do escarro, diz o grande hygienista e demographista inglez Newsholme, é provavelmente o mais importante problema da prophylaxia da tuberculose; é toda a essencia da prevenção directa da tuberculose, diz o Professor Edward Otis, de Boston.

Segundo Cornet um tysico póde expectorar diariamente 7.200 milhões de bacillos; Nuttall calcula que um tysico, expectorando 70 a 130 centimetros cubicos por dia, póde expellir diariamente de 1 a 4 bilhões de bacillos; ainda admittindo, como ponderou Kitasato, que nem todos esses bacillos são eliminados vivos, bem se póde avaliar quanta margem fica para os que têm de reproduzir a infecção.

A outra linha de ataque á tuberculose é a que tem por fim eliminar as condições que tornam o terreno humano favoravel ao desenvolvimento do bacillo; nella se inclue o melhoramento do meio e das condições sociaes em que o povo vive, e o avigoramento da resistencia organica ou vital dos individuos. Aqui, é ainda essencial e indispensavel a cooperação dos Governos e dos particulares para que os resultados sejam satisfactorios.

Deixando de lado a parte que se refere ao melhoramento do meio e das condições sociaes do povo, que mais propriamente incumbe aos poderes publicos, consideremos a questão da resistencia vital. Aqui se situa aquelle ponto em que a luta contra a tuberculose está mais nas mãos dos proprios particu lares, porque, com raras excepções, está no exclusivo poder de cada um ser physicamente forte.

Entre os factores que condicionam o desenvolvimento e o augmento da resistencia vital estão, em primeiro plano, o exercicio physico e a vida ao ar livre. Outros factores existem tendentes ao mesmo fim, como a bôa alimentação, a casa salubre, mas ás directrizes de taes factores nós somos mais ou menos obrigados a obedecer por outros motivos, e porque as infracções respectivas repercutem immediatamente no organismo de maneira desagradavel. Mas com o exercicio physico e a vida ao ar livre, a saude apparentemente normal é compativel com a ausencia delles e as relações de causa e effeito entre esta ausencia e a má saude não são facilmente apprehendidas, de onde a necessidade de collocal-os em primeiro plano, para promover-lhes a pratica regular. Este primeiro plano lhes cabe ainda á vida ao ar livre e ao exercicio physico — porque, sem elles, os outros factores beneficos da resistencia vital não produzem seus plenos effeitos, e porque está provado que a acção delles, sendo efficacissima para a saude em geral, é peculiarmente valiosa para curar e evitar a infecção tuberculosa.

E neste ponto, estamos, nós Brasileiros, numa situação lastimavel. Somos um povo de vida encerrada e de vida immovel, passo enleiado, postura canhêstra, corpo encurvado, folego curto, movimentos difficeis...

Em medicina, existe uma conformação e attitude de corpo a que chamamos habitus phthisicus; o peito estreito, os hombros cahidos, a face pallida, os musculos atrophiados; pois vêde a nossa multidão, os habitos tysicos enxameam. Observai, ao envez, esse, que temos, pequeno grupo de bolistas (footballers) e de remadores (rowers); tereis evidente o contraste: a vida ao ar livre pôl-os robustos, de peito aberto, musculos cheios, tronco a prumo, passo firme, sangue rubro, fronte alta...

Esta seria, se eu pudesse, a materia unica da actual conferencia, tanto nos deve ferir que sejamos um povo de fracos, quando temos a estôfa para ser fortes.

Não faz muito tempo, distincto collega meu em commissão na Europa, estando, com algunas senhoras brasileiras, em certa importante cidade da França. ouvio de pessoas cultas do lugar a pergunta para elle estranha e ingenua: —“As mulheres no Brasil são todas corcundas?" A observação é verdadeira. Reparae. Nós temos, frequentemente, o typo de mulher corcunda, por excesso de gordura accumulada nas costas, devido á falta absoluta de exercicio physico; e além, ou em vez de corcunda, temol-a tambem, clorotica, pela falta de vida ao ar livre. Antes de ser um maleficio contra a belleza da nossa mulher, que em dotes naturaes de formosura nada tem a invejar ás mulheres dos outros paizes, estes habitos anti-hygienicos da vida encerrada e sem movimento são um maleficio contra a saude e a favor da tuberculose.

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Se a mulher é mais fraca do que o homem e ella é mais fraca de metade a causa principal é a sua vida mais dentro de casa, os seus trajes mais apertados, seus habitos mais sedentarios. A mulher selvagem que se tem obser vado é, ao contrario, quasi tão forte quanto o homem.

A vida ao ar livre é para a mulher condição de belleza, ao mesmo passo que condição de saude. Não se lembram daquelle quadro de Ramalho Ortigão, da praia de Scheveningue, na Hollanda ? Nada mais risonho nos dias de verão, sob a luz doirada do sol descoberto e do céo azul, do que o aspecto matinal, á hora do banho, desta immensa praia de areia finissima... Todas as senhoras nadam, e os seus reduzidos trajes de banho, deixando plenamente livres todos os movimentos do corpo, descobrem aos olhos deslumbrados dos viajantes meridionaes, carnações de lampejos fascinantes, de uma brancura nunca vista, de um mimo epidermico de hyperbole paradisiaca. Enforca-te, enforca-te, ó terno, requebrado Cabanel! Enforca-te ou vai tratar de outro officio porque nunca a tua assucarada palêta, nunca os pinceis, embebidos no succo mysterioso e clandestino dos lyrios e das anemonas do teu herbario de retratista, nunca o teu processo de pintar carnes tão docemente escorridas na téla como escorre na ponta da lingua, pelas paredes do paladar, o crême abaunilhado de um bonbon fondant, darão, na côr requintada em transparencia e em mimo das parizienses idealiaadas nos teus quadros, uma idéa longinqua da verdadeira pelle destas náiades de sangue germanico, de sangue escandinavo ou de sangue slavo, nascidas á beira dos lagos gelados do Norte, como flores da neve !

Eis a vida ao ar livre...

Neste formoso quadro o litterato só vio a belleza, mas o medico veria tam-' bem a saude e a resistencia do corpo, com eu vi nas praias de Nova York, e não sómente pela manhã, mas tambem á tarde e o dia todo.

Não é sem razão que nos paizes de cultura physica mais cuidada o banho ao ar livre, a natação e o mergulho são os mais populares e os mais aconselhados dos desportos e dos exercicios physicos. Elles não são sómente os mais faceis de se pôrem em pratica, elles são tambem os mais efficazes para levantar a resistencia organica, especialmente o mergulho, quanto á funcção respiratoria, e são os que proporcionam, sem monotonia, o maximo de luz, de sol e de ar livre ao organismo.

E não é tambem sem uma razão hygienica que os banhos ao ar livre devem ser tomados com tão pouca roupa quanto possivel, pois está demonstrado que é enorme a acção tonica e vitalizadora da atmosphera aberta e da luz solar sobre o corpo nú. Na Europa, principalmente na Allemanha, de onde veio o sa lutar costume, existem até estabelecimentos proprios vedados a olhos indiscretos, em que os banhos de ar e luz pódem ser tomados em estado de completa nudez.

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