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Elemento servil

O projecto que se discute, se não é a escura transacção entre os interêsses rivais e contraditórios de ideas políticas opostas, é com certeza, pela sua origem, pelos seus meios de acção e pela fatalidade dos fins que leva em seu bôjo, um quási contrato entre as fracções desagregadas de dois partidos, ambos a expiar faltas comuns, entre as agonias mortificantes dos que descem e as convulsões epilépticas dos que sobem.

Não é uma reforma: é um expediente de guerra, que prolonga a escravidão dos negros, para nobilitar a suposta liberdade dos brancos. ¡Excelente projecto, principalmente para os que ainda hoje ousam reviver, em nome da sua bandeira, as tradições heróicas de 1831 Magnífica e também esplèndida ¡ vitória para esses que trazem do passado, coroado de flores e de lágrimas, o ataúde de um grande homem, encerrando mais do

que o seu corpo, porque a história o transformará um dia em berço de uma geração inteira!

Não é uma reforma, é o epitafio de uma Câmara entregue imperativamente ao Senado pelo Sr. Presidente do Conselho, para que se incumbam os senadores do Império de abri-lo em uma campa gigantesca onde ao mesmo tempo devem enterrar as liberdades do parlamento, as prerogativas da assemblea geral e até as grandes ficções constitucionais, sagradas e indispensáveis condições dêste govêrno mixto que fundou a soberania da nação e que mais do que ninguêm deve o Senado zelar e defender em nome da Constituição jurada.

A história, essa não conhece os cortesãos da democracia e os revolucionários da ordem, se passarem as obras esplendorosas das coligações inconscientes que vem das trevas, dirá que a sua fisionomia é duplaprojecto adiantado para os liberais do exército aliado, projecto conservador para os sócios da guerra que vieram dos arraiais inimigos.

A fisionomia é característica e dúplice: ela contempla ao mesmo tempo as sombras

do ocidente e as auroras do oriente, novo deus da fábula, confundindo nos horizontes que abraça o seu olhar todos os pontos do quadrante, ou criação fantástica dos visionários demoníacos, encerrando duas faces num mesmo rosto, a escravidão a pedir a liberdade e a liberdade a perpetuar a escravidão!

O Sr. Presidente do Conselho pode sem dúvida lisonjear-se. Mais feliz do que César, S. Ex. poderia recordar as frases célebres do grande homem, dirigindo-as aos novos e velhos marinheiros de sua equipagem: Quid times? Cesarem vehis!

Enterrado com tôdas as pompas do estilo e com todas as régias cerimónias o poder pessoal, S. Ex. entra pelos parlamentos como o mais elevado representante brasileiro do providencialismo na história. Tudo se abaixou diante dos seus passos. Dois chefes liberais trouxeram-lhe sorrindo os lauréis formosos e virentes que deviam premiar um vencido disfarçado na pessoa de S. Ex. Seus adversários políticos em grande parte estimulados, procurando rivalizar na prédica do novo evangelho social, estenderão para a nova ceia do Cristo a toalha da

comunhão e o vinho generoso da magna aliança deve ser o suor sanguinolento do pobre, assim como o pão glorioso dos partidos regenerados seria no futuro a carne quási apodrecida de uma raça moribunda... (Discurso na sessão de 4 de Setembro de 1885, do Senado).

A Câmara não representa o País

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O nobre Presidente do Conselho associou-se àquele plano monumental que pretende educar eternamente o cidadão para votar, da mesma sorte que educa os africanos do contrabando para serem livres: nem voto para o cidadão e nem liberdade para o homem de raça negra. Um dia o nefasto projecto, sem ter salvado os interêsses, aos quais S. Ex. sacrificou a constituição e a justiça, há de ser apreciado até pelas matrículas de ontem e de hoje. Nesta hora solene, serenadas as paixões, a imparcialidade dos pósteros dando verdadeiro realce à luta do momento, irá procurar nas estatísticas de S. Ex. o número dos escravos possuídos pelos eleitores do censo e pelos seus representantes e desta indagação não hão de escapar os mesmos colegas de S. Ex.

O nobre Presidente do Conselho sem dúvida invocará a autoridade da lei; são os

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