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tempestade. Rapida, como é, lembra ella por muitas particularidades a idade media, e é uma perfeita lenda d'esses tempos, que foram de embrutecimento e de trevas, que foram tambem de anarchia moral, pelas côrtes de amor, mas em que houve almas, como a de Magriço, sinceramente dominadas do dever e da honra, e em que uma instituição houve, cuja idéa foi crear um exercito de homens de coração para resistir ao direito da força e proteger a fraqueza.

Tal é rapidamente analysado o episodio dos -doze de Inglaterra; com esse breve estudo, terminamos a critica das Lusiadas.

São os Lusiadas uma das maiores obras do espirito humano, e apresentam, conforme o lado do qual são vistos, os mais differentes meritos.. Não temos a pretenção de havel-os descoberto nem conhecido todos.

Os grandes poemas são como certas almas que só se mostram em todo o seu valor na intimidade. E' preciso ser-se um velho amigo dos poema, não ter tido por elle uma admiração passageira, para se chegar á conhecer a maior parte de seus thesouros escondidos, e só de hontem conhece os Lusiadas quem escreve estas linhas.

Há muitas intenções delicadas, que se não tornam logo sensiveis; há tintas que se não percebem nas côres dos quadros, linhas cuja unidade não se acompanha bem através dos opulentos ornatos do edificio, approximações como antitheses que só o estudo põe em relevo. O que se chama conhecer perfeitamente os Lusiadas é saber qual foi o pensamento do poeta, é conhecer a unidade e a variedade da concepção, os momentos da invenção,

que foram tantos em tão longos annos, as difficuldades da execução; é poder dizer tudo que sentiu Camões ao lêr a sua obra, que partes elle mesmo admirou mais, que trechos repetia elle com mais amor; isso, sim, é conhecer o poema, tão bem como o conheceu o poeta.

Se bem poucos podem ter essa sciencia, todos devem ler e estudar o maior livro de sua lingua. E' nos poemas epicos que se encontra a fonte dos sentimentos elevados e que se descobrem as mais bellas perspectivas da gloria! Alexandre não abandonava a Iliada. A mais brilhante mocidade, que o mundo já viu, procurava em Homero um ideal de vida, que as tradições do throno e a sabedoria de Aristoteles não lhe haviam dado!

LIVRO TERCEIRO

Velhice e morte de Camões

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CAPITULO I

CAMOES E A EXPEDIÇÃO A' AFRICA

Começa agora a parte mais dolorosa da vida do poeta; vamos vel-o chegando á velhice, luctando dia por dia com a miseria e a fome, implorando da morte o fim de tantos soffrimentos e extinguindo-se pouco a pouco, em sua enxerga, como a respiração da patria.

Em quanto não produzio o seu poema, completo como o plano que delle tinha concebido, Camões viveu entregue á esse unico pensamento. Tinha elle vivido sempre longe da patria; em vez de desprezar seu paiz com o scepticismo de quem reside nas côrtes, o poeta tinha aprendido na historia e no passado á amar a sua raça. Chegado á Lisboa, não tinha elle á principio des coberto a imminencia da desgraça nacional; absorvido em uma idéa fixa, tinha vivido d'ella. Fôra o ascetismo do genio com todos os seus extasis e suas chimeras.

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