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O VIMU

Ridentem dicere verum

Quid vetat?

HORATIO, Liv. 1.o, Sat. 1.

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BO VIMU

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AHINDO á luz esta nova edição, que é a oitava, do celebre poema de Diniz, julgámos conveniente precedel-a de algumas noticias, ainda que breves do seu illustre auctor.

O que a tal respeito ha publicado nas suas obras e nos escriptos bio-bibliographicos é pouquissimo. Nem Lecussan Verdier que dirigiu as edições do Hyssope, de 1817 e 1821, nem Trigoso, que escreveu a memoria sobre a Arcadia inserta no vi volume das da Academia Real das Sciencias, ambos ainda contemporaneos do poeta e ligados por amizade ou conhecimento a pessoas que os podiam informar, adiantam coisa alguma de ponderação ácerca de homem tão notavel. O primeiro, escusando-se com a sua ausencia de Portugal, desculpa, aos olhos de muitos, rasoavel, sente não haver uma biographia de Diniz, e appella para o doutor Antonio Ribeiro dos Santos, ao qual mais que a ninguem, segundo a sua phrase, incumbia a obrigação de nos transmittir as particularidades da sua vida, por tanto o haver con. versado; o segundo, quer na mencionada memoria, quer nas muitas notas da edição por elle dirigida, das obras do poeta, limita-se a meia duzia de linhas, e essas mesmas assentes em factos vagamente expressos. Innocen cio no seu valioso Diccionario Bibliographico, e nos artigos de que adiante fallaremos dá-nos alguns subsidios, mas escassos. Rebello da Silva e outros escriptores seguem Trigoso ou pouco mais adiantam.

O descuido e a proverbial ingratidão da nossa terra, mesmo para com seus filhos predilectos, que têem deixado sepultos no esquecimento muitos nomes gloriosos e muitos factos, que formam para ella outros tantos diamantes da sua propria coroa, são a nosso ver a causa verdadeira d'esta censuravel falta, mas desejando, por poupar mais esta vergonha ao nosso paiz, achar-lhe uma atte

nuante, lembraremos que talvez os muitos annos que o pocta viveu longe da côrte e do reino, na colonia do Brazil, onde morreu, não contribuissem pouco para tão prejudicial e prematuro esquecimento.

Mal ajudados, por conseguinte, pelos nossos antecessores, procurámos na investigação dos documentos e na leitura das proprias obras de Diniz, o que elles nas mesmas fontes podiam ter procurado, e n'ellas bebemos particularidades interessantes, a que os amigos d'esta qualidade de estudos darão, de certo, algum apreço, e que deixam mais illucidado um dos muitos pontos obscuros da nossa historia litteraria.

Antonio Diniz da Cruz e Silva nasceu em Lisboa, a 4 de julho de 1731, e foi baptisado a 23 do mesmo mez, na freguezia de Santa Catharina do Monte Sinay. Foram seus paes João da Cruz Lisboa, baptisado na freguezia de Santos, a 26 de dezembro de 1689, e Eugenia Thereza, baptisada a 24 de fevereiro de 1689, na freguezia da Encarnação, os quaes se receberam na freguezia de Santa Catharina a 5 de fevereiro de 1713.

Foram seus avós paternos Vicente Ferreira, baptisado na freguezia de Santos, calafate da Ribeira das Nãos, em cujo officio morreu, e Josefa da Silva, baptisada na freguezia de Santo Estevão de Alfama, que teve um logar de medideira no Terreiro do Trigo, onde vendia pessoalmente, occupação que conservou até á morte. Tratavam-se com decencia.

Foram seus avós maternos Manuel Gomes Borges, tenente do regimento da armada chamado do Verde, o qual, tendo-se retirado de Portugal para o Brazil, occupou em Marianna, pelo menos, desde 1725 até 1739, o officio de meirinho do juizo de fora d'aquella villa, e Catharina Maria de Sena, que, depois da retirada do marido, viveu de alguma cousa que elle lhe mandava, do que lhe davam seus parentes e do seu trabalho de costura. Receberam ambos a agua do baptismo na freguezia da Encarnação.

Ignora-se qual fosse a casa e mesmo a rua, em que nasceu Antonio Diniz. Sua mãe, muito antes do terremoto, residia na rua da Cruz, onde ainda muito depois d'elle a encontramos, e onde os avós paternos do poeta possuiam casa propria; e em 1779, morava na rua da Paz. Aventuraremos, portanto, á falta de outros dados mais positivos, que foi por estes sitios, favoritos durante tantos annos da sua familia, e nos quaes ainda o achamos posteriormente, vivendo com sua mãe, porém d'esta vez na Rua Direita do Poço Novo, que o auctor do Hyssope viu pela primeira vez a luz da existencia.

Tristes correram para elle os primeiros annos que precisam de tanto amor, auxilio e conforto! Antonio Diniz da Cruz e Silva não conheceu pae! Breves palavras que dizem tanto e que abrem para sempre na vida dos que têem alma sensivel um abysmo de dor profundissimo. Não lh'o roubou a morte, mas a ausencia, que é, digamos assim, a imagem immaterial d'ella, como o somno é a sua imagem apparente. Nunca foi visto pelo olhar paterno que se deleita, e se transfunde na existencia dos filhos; nunca o poude contemplar com aquelle respeitoso affecto que se deve somente ao que nos encaminha a inexperiencia da juventude, supprindo a nossa fraqueza com o thesouro generoso da sua experiencia; ao que nos incita e nos festeja com voz carinhosa; ao que nos ampara, se desfallecemos, e nos levanta, se caimos; ao nosso primeiro, nosso melhor, nosso unico e verdadeiro amigo. Esta semente amarga, esta quasi orfandade enraizou-se e medrou, coberta e disfarçada primeiro pelas alegrias

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