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CII

Tambem nestas palavras lhe mentia,
Como por regimento em fim levava;
Que aqui gente de Christo não havia,
Mas que a Mafamede celebrava
O capitão, que em tudo o Mouro cria,
Virando as velas a ilha demandava:
Mas não querendo a de sa guardadora,
Não entra pela laira, e surge fora.

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Estava a ilha á terra tão chegada,-
Que hum estreito pequeno a dividia;
Huma cidade nella situada,

Que na fronte do mar apparecia;
De nobres edificios fabricada,
Como por fora ao nge descobria:
Regila por um Rei de antigua idade,
Mombaça he o nome da ilha, e da cidade.

CIV

E sendo a ella o Capitão chegado,
Estranhamente ledo, porque espera
De poder ver o povo baptisado,
Como o falso piloto The dissera:
Eis vem bateis da terra com recado
Do Rei, que ja sabia a gente que era::
Que Baccho muito de antes o avisara,
Na forma d'outro Mouro que tomara.

GV

O recado que trazem he de amigos;
Mas debaixo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Sogundo foi o engano descoberto.
Oh grandes, e gravissimos perigos!
Oh caminho de vida nunca certo!
Que aonde a gente poem sua esperança,
Tenha a vida lão pouca segurança.

CVI

No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!

Onde pode acolher-se hum fraco humano,
Onde terá segura a curta vida?

Que não se arme, e se indigne o Ceo sereno Contra hum bicho da terra tão pequeno?

OS LUSIADAS

CANTO SEGUNDO

ARGUMENTO

DO CANTO SEGUNDO

Instigado do demonio pretende El-Rei de Mombaça destruir os navegantes dispoemThes traições debaixo de fingida amizade: apparece Venus a Jupiter, e intercede pelos Portuguezes elle lhe promette favorece-los, e The refere, como em prophecia, algumas façanhas dos mesmos no Oriente: em sonhos apparece Mercurio ao Gama, e the adverte, que evite o perigo de Mombaça: levam ancoras, chega a Melinde, cujo Rei o recebe, e hospéda benignamente.

OUTRO ARGUMENTO

Dar El-Rei de Mombaça o fim prepara
Ao Gama illustre, com mortal engano:
Desce Venus ao mar, frota empara,
E a fallar sobe ao Padre soberano:
Jove os casos futures the declara:
Apparece Mercurio ao Lusitano:

Chega a frota a Melinde, e o Rei potente
Em seu porto a recebe alegremente.

OS LUSIADAS

CANTO SEGUNDO

Ja

I

á neste tempo o lucido planeta,
Que as horas vai do dia distinguindo,
Chegava á desejada, e lenta mela,
A luz celeste ás gentes encobrindo:
E da casa maritima secreta

Lhe estava o deos nocturno a porta abrindo;
Quando as fingidas gentes se chegaram.
A's naos, que pouco havia que ancoraram.

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D'entre elles hum, que trazencommendado
O mortifero engano, assi dizia:
Capitão valeroso, que cortado

Tens de Neptuno o reino, e salsa via,
() Rei que manda esta ilha, alvoroçado
Da vinda tua, tem tanta alegria,
Que não deseja mais que agasalhar te,
Ver-te, e do necessario reformar-te.

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