Tambem nestas palavras lhe mentia, Como por regimento em fim levava; Que aqui gente de Christo não havia, Mas que a Mafamede celebrava O capitão, que em tudo o Mouro cria, Virando as velas a ilha demandava: Mas não querendo a de sa guardadora, Não entra pela laira, e surge fora.
Estava a ilha á terra tão chegada,- Que hum estreito pequeno a dividia; Huma cidade nella situada,
Que na fronte do mar apparecia; De nobres edificios fabricada, Como por fora ao nge descobria: Regila por um Rei de antigua idade, Mombaça he o nome da ilha, e da cidade.
E sendo a ella o Capitão chegado, Estranhamente ledo, porque espera De poder ver o povo baptisado, Como o falso piloto The dissera: Eis vem bateis da terra com recado Do Rei, que ja sabia a gente que era:: Que Baccho muito de antes o avisara, Na forma d'outro Mouro que tomara.
O recado que trazem he de amigos; Mas debaixo o veneno vem coberto, Que os pensamentos eram de inimigos, Sogundo foi o engano descoberto. Oh grandes, e gravissimos perigos! Oh caminho de vida nunca certo! Que aonde a gente poem sua esperança, Tenha a vida lão pouca segurança.
No mar tanta tormenta e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida! Na terra tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se hum fraco humano, Onde terá segura a curta vida?
Que não se arme, e se indigne o Ceo sereno Contra hum bicho da terra tão pequeno?
Instigado do demonio pretende El-Rei de Mombaça destruir os navegantes dispoemThes traições debaixo de fingida amizade: apparece Venus a Jupiter, e intercede pelos Portuguezes elle lhe promette favorece-los, e The refere, como em prophecia, algumas façanhas dos mesmos no Oriente: em sonhos apparece Mercurio ao Gama, e the adverte, que evite o perigo de Mombaça: levam ancoras, chega a Melinde, cujo Rei o recebe, e hospéda benignamente.
Dar El-Rei de Mombaça o fim prepara Ao Gama illustre, com mortal engano: Desce Venus ao mar, frota empara, E a fallar sobe ao Padre soberano: Jove os casos futures the declara: Apparece Mercurio ao Lusitano:
Chega a frota a Melinde, e o Rei potente Em seu porto a recebe alegremente.
á neste tempo o lucido planeta, Que as horas vai do dia distinguindo, Chegava á desejada, e lenta mela, A luz celeste ás gentes encobrindo: E da casa maritima secreta
Lhe estava o deos nocturno a porta abrindo; Quando as fingidas gentes se chegaram. A's naos, que pouco havia que ancoraram.
D'entre elles hum, que trazencommendado O mortifero engano, assi dizia: Capitão valeroso, que cortado
Tens de Neptuno o reino, e salsa via, () Rei que manda esta ilha, alvoroçado Da vinda tua, tem tanta alegria, Que não deseja mais que agasalhar te, Ver-te, e do necessario reformar-te.
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