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CVIII

Em praticas o Mouro differentes Se deleitava, perguntando agora Pelas guerras famosas e excellentes, Co'o povo havidas, que a Ma ̈ona adora: Agora lhe pergunta pelas gentes De toda a Hesperia ultima, onde ora; Agora pelos povos seus visinhos, Agora pelos humildes caminhos

CIX

Mas antes, valeroso Capitão,
Nos conta, lhe dizia, diligente,
Da terra lua o clima, e região
Do Mundo onde morais, distinctamente;
E assi de vossa antiga geração,
E o principe do reino tão potente,
Co'os successos das guerras do começo;
Que se sabe-las sei que são de preço:

CX

E assi tambem nos conta dos, rodeios
Longos, em que te traz o mar irado,
Vendo os costumes barbaros alhetos,
Que a nossa Africa ruda tem criado.
Conta: que agora vem co'os aureos freios,
Os cavallos, que o carro marchetado
Do novo Sol, da fria Aurora trazem;
O vento dorme, o mar, e as ondas jazem.

CXI

E não menos co'o tempo se parece
O desejo de ouvir-te o que contares;
Que quem ha, que por fama não conhece
As obras Portuguezas singulares?
Não tanto desviado resplandece
De nós o claro Sol, para julgares
Que os Melindanos tem tão rudo peito,
Que não estimem muito hum grande feite,

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Commetteram soberbos os Gigantes,
Com guerra vaa, o Olympo claro e puro:
Tentou Pirithoo, e Thes c, de ignorantes,
reino de Plutão horrendo e escuro:
Se houve feitos no mundo tão possantes,
Não menos he trabalho illustre e duro,
Quanto foi commetter inferno, e ceo,
Que outrem commetta a furia de Nereo.

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Queimou o sagrado templo de Diana,
Do subtil Ctesiphonio fabricado,
Herostrato, per ser de gente humana
Conhecido no mundo, e nomeado:
Se tambem com taes obras nos engana
O desejo de um nome avantajado,
Mais razão ha que queira eterna gloria,
Quem faz obras tão digras de men oria.

OS LUSIADAS

CANTO TERCEIRO

ARGUMENTO

DO CANTO TERCEIRO

Prática de Vasco da Gama com el-Rei de Melinde, em que lhe faz a descripção da Europa: dá-lhe conta dos principios do Reino de Portugal, de seus Reis, (até El Rei D. Fernando) e das suas acções principaes: feito notavel de Egas Moniz: vem a Portugal a Rainha de Castella D. Maria, a pedir soccorro para a batalha do Salado: amores, e caso desastrado de D. Iguez de Castro: alguns successos d'El Rei D. Fernando.

OUTRO ARGUMENTO

A populosa Europa se descreve;
De Egas Moniz o feito sublimado;
Lusitania, que Reis, que guerras teve;
Christo a Affonso se expõem crucificado:
De Dona Ignez de Castro a pura neve
Em purpura converte o povo irado:
Mostra-se o vil descuido de Fernando,
E o grão poder de hum gesto suave, e brando.

OS LUSIADAS

CANTO TERCEIRO

I

Agora tu, Callicpe, me ensira

O que contou ao Rei o illustre Gama:
Inspira mortal canto, e vez divina
Neste peito mortal, que tanto te ama.
Assi o claro iuventor da Medicina,
De quem Orpheo pariste, ó linda dama,
Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothee,
Te negue o amor devido, como sóe.

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Poem tu, Nympha, em effeito meu desejo,
Como merece a gente Lusitana;

Que veja e saiba o mundo que do Tejo
O licor de Aganippe corre, e mana.
Deixa as flores de l'indo, que já vejo.
Banhar-me Apollo na agoa soberana;
Senão direi, que tens algum receio,
Que se escureça o teu querido Orpheio.

F

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