Guardai a nao de alli, ventos ligeiros. Da noffa differença nao te efpantes : Mas efte amor, que eu cá mudar nao pude, Inda que vá a morar lá neffas agoas, Nao temas que a mudança em mi o mude. Serao as vivas ondas vivas fragoas, Em que eftarei ardendo noite, e dia, Senao tiveres dó de tantas mágoas. As horas naturaes da pescaria Nao vês que vao paffando? Como as paffas? Quem defte paffatempo te defvia? Ah rigorofa Nympha ! Ah! Nao me faças Dar em vão tantos gritos: vem, iremos Ambos a levantar as verdes naças. Ambos os anzoes curvos cobriremos De mentirofas ifcas, com que os peixes A todo prazer noffo prenderemos. Affi de amor cruel nunca te queixes, E de effa formofura ás mais formofas Nymphas do mar azul vencidas deixes: Que venhas (pois por ti com faüdofas A praia eftá callada, o mar em calma: Por Por cima defta rocha brandamente Polos pés desta rocha dura, e alta, Nao te darei ourizos efpinhofos, Mas álém de tudo ifto hum crefpo galho Nao reina amor no mar, como na terra? Bem fabes que mil vezes já venceo A Neptuno teu Rei em clara guerra. Suz Sua formofa mái onde nafceo, Se das pedras nafceffes nas montanhas Com huma moftra fó que de ti deras, Entao víras os meus, donde correndo Olhos que lá me tendes o fentido ; ADVERTENCIA DE FARIA. Ha em toda efla Ecloga muitas cousas que eflao no manufcripto differentes do que Je ve na impreffao de Bernardes: nao as aponto por nao Jer neceffario: efta vai con forme forme ao mesmo manufcripto, porque nelle eftao melboradas algumas dellas. Ifto mef mo digo das quatro que fe feguem, pelo nao dizer em cada buma. Em todas apontarei Jómente os lugares, em que houver alguma confideravel differença, ou alteraçaõ. ECLOGA X. DE LUIS DE CAMÕES, PISCATORIA. Ufurpada por Diogo Bernardes be a de cimaterceira no feu Lima. Ncheo do mar azul a branca praia Melifo Pescador, de mil querellas; Melifo, que por Lilia arde, e desmaia. Defpois que á luz da Lua, e das estrellas; Sobre dura fatexa o barco posto, As redes recolheo, remos, e vellas: Que gofto, ó Lilia, ( diffe) ou que defgofto Te move a me negar, vendo qual ando Teus olhos côr de Ceo, teu alvo rosto? Se tu queres que pene defejando; Se queres que no mar em fogo viva; Ardendo fempre eftè, fempre penando. Mas olha, ó branda Lilia, (antes efquiva) Vives dos meus cuidados defcuidada: Bem Bem podes com razaó fer piedofa Com quem nao quer mór be, q be quererte; Nao fendo tao cruel como es formofa. Ora deixa já ingrata, deixa ver-te A meus canfados olhos, que de tantas Lagrimas fao movidos, fem mover-te. Se tu me vences e fe tu me encantas Com tua doce falla, doce rifo, Porque foges de mi, porque te efpantas? Lembre-te a formofura de Narcifo, E qual pago lhe deo feu defamor : Olha que com amor, difto te avifo. Mas quando effa crueza tanta for, Que mereça do Ceo novo caftigo, Qual herva ferá digna de tal flor? Amor que me perfegue, amor que figo, Me faz de hum grave mal andar temendo ; De hum mal, q eu finto na alma,e q nao digo. Quanto mais lédo já te eftive vendo, Aqui as manfas ondas esperando, Que por chegar a ti vinham correndo ; E da molhada area defpegando Com a candida mão roxas conchinhas, A fórma do teu pé nella deixando? Daquellas, de que tu mais gosto tinhas, Muitas te trago aqui, poftoque temo, Que menos o terás por ferem minhas. Hum temor tal me chega a tal extremo Que vencido do trifte efquecimento, No mar me cahe da mão o duro remo. E quando a branca véla fólto ao vento, Tao defcuidado vou do fiel leme Que |