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Alvaro Teixeira de Macedo.

Vous y verrez certain homme de bien
Qui réunet, voluptueux et sage,
L'art de penser au riant badinage.

VOLTAIRE.

. I.

Qual he a mão, de baixo da qual, por mais distrahida, e opposta que pareça, não possa modular a doce Lira? A Lira se tem visto muitas vezes alternar com a lança na mão do Guerreiro, com o sceptro na do Rei, com a Vara na do Magistrado, com o breviario, ou o baculo na do Sacerdote; e com o caduceo na do Politico. Achiles indomito

Ja toma a branda Lira

Na mão que a dura pelias meneava. (*)

Tyrteo sublime canta o hymno do valor, e á frente do exercito glorioso triumfa. Sabeis tambem que Cesar foi grande capitão, e grande poeta. Diniz o grande, de Portugal,

Regeo, edificou, lavrou, venceo,

Honrou as Musas, poetou, e leo. (**)

Esse mesmo Carlos IX, que no S. Bartholomeo atirava das suas janellas sobre os Hugonotes, não metrificou excellente? Ferreira, e Gabriel Pereira equilibrão sabios a balança de Astrea, e sabios tangem o instrumento Apollineo. O Dante commanda victoriosas legiões, desempenha grande numero de mis

Camões.
(**) Ferreira.

sões politicas, e canta a Divina Comedia. A Petrarca forão tambem confiadas varias missões diplomaticas: elle conciliou as Republicas de Genova, e de Veneza; resolveo o Imperador Carlos IV a por termo ás sanguinolentas dissenções dos guelfos, e gibelinos, e dissua dio-o de levar outra vez a guerra além dos Alpes. O Titulo de Conde Palatino, e a rica boceta de ouro em que lhe foi offerecido, galardoarão tão bons serviços. Mas he á poesia que o seo nome deve a immortalidade. Machiavel, sobre quem pesarão tambem muitas missões em França, em Allemanha, e Roma, compoz comedias. E vós, ó Martyrs, não vos aperfeiçoastes entre os espinhos, e arcanos da politica A politica está em vós, bem como no Genie du Christianisme, por toda parte. Durão immortalisa-se com o singular Caramurú; e o Padre Magalhães, o Padre Caldas, eo Vigario Barreto, e tantos outros Brasileiros Presbiteros com bellissimas poesias sacras, e poesias profanas. E que de melhor podereis presentar-nos a par das inspirações, e magica melodia de um Maciel Monteiro, ministro do Brasil na Corte de Lisboa?

Este consorcio possivel, e util da Poesia com algum dos Ramos da sciencia, ou Negocio do Estado, bellamente o versificou o magistral Ferreira:

Não fazem damno as Musas ós Doutores,
Antes ajuda a suas letras dão :

E com ellas merecem mais favores,
Que em tudo cabem, pera tudo são.

Fora bem enfadonho collocar a todos esses homens de duplo genio, e tudo que lhes respeita na especie que apontamos, nesta succinta memoria, não sahindo mesmo dos tempos modernos. Limitemos ora a curiosidade a ver o nosso Comprovinciano Alvaro Teixeira de Macedo na carreira da Diplomacia, e igualmente na do Permesso.

No dia 13 de Janeiro de 1807 nasceo na Cidade do Recife de Pernambuco Alvaro Teixeira de Macedo, filho do sargento mór Diogo Teixeira de Macedo, e de sua mulher D. Anna Mattoso

da Camara de Macedo, neto poterno de Alvaro Teixeira de Macedo, e materno do capitão mór Luiz Prates Mattoso da Camara, cavalleiro da Ordem de Christo, e Familiar do Santo Officio, varão que, por sua austeridade de costumes, e respeito, gosava a consideração de chefe das tres Familias de Macedos, Menezes, e Camaras, distinctas na Colonia de Angola pelos seos ser. viços, riqueza, e posições. Seo Avo paterno Alvaro Teixeira de Macedo foi Governador da Fortaleza da Conceição da Cidade do Rio de Janeiro, hoje soberba capital do Imperio : creou nessa Fortaleza a Fabrica das armas, que ainda existe; dirigio a construcção da não serpente, de que falla Basilio da Gama no Uraguay, a qual depois mudou o nome para São Sebastião; e sendo por ultimo nomeado Governador de Benguella, falleceo sem entrar neste exercicio. D. Anna Mattoso da Camara de Macedo foi uma senhora de rara belleza, e deixou gratas recordações na Sociedade Pernambucana daquelles tempos de virtudes mais simplices, e viver tranquillo.

Se alguem julgar uma minudencia, ou demasia frivola, e ociosa, a noticia que damos desta belleza, he porque não pondera, que a belleza individual, e mormente a nacional, he um resultado infallivel, e constante da civilisação. Todos os povos feios, ou deformes, são mais,, ou menos barbaros; e pelo contrario, uma alma bella reside ordinariamente em um corpo bem constituido. Anima sana in corpore sano. Não se observa quasi sempre nas pessoas disformes alguma singularidade de genio, e extravagancia de espirito? Jamais as bellas artes, que fazem o encanto da sociedade, se poderão aperfeiçoar, se a belleza restar inculta, e selvagem. «Por mais remota que pareça á primeira vista a relação que liga um feliz, e sabio governo á belleza geral de um Povo (diz tambem Virey) menos nos espantaremos disto, se reconhecermos quanto as paixões alegres, ou tristes, restão impressas sobre as figuras. Longo tempo continuadas, estas affecções formão nas mesmaz figuras caracteres indeleveis. Todos os sentimentos nacionaes dependem da natureza do governo, mais ou menos auxiliado pela qualidade do solo. Quanto mais um Povo he contente, feliz, e tran

quillo, mais elle offerece bellas formas, e se lhe poderdes associar sentimentos de altivez, e independencia, ellas terão uma sublime, e nobre expressão. O escravo embrutecido sob a pezada cadeia da escravidão, só apresentará um porte abjecto, uma figura estupida, um aspecto desagradavel, e sordido, constrangido, e aviltado. Taes as causas da deformidade dos Povos opprimidos, e da belleza das nações policiadas. Além do que, pode-se negar, que a alma influe sobre o semblante, e mesmo sobre a conformação de todo o corpo? » Vede la como a belleza liga-se á politica, e á moral, e dellas se deduz! E andamos ociosos, quando justo lhe rendemos este passageiro encomio? Mas attendei que (segundo o mesmo Escriptor) não comprehendemos aqui a belleza delicada, e superficial, fructo de uma vida mole, e effeminada, mas que se murcha, e dissipa com a menor impressão da idade, e que o sopro do tempo faz desaparecer para sempre. Só consideramos a voronil, e severa belleza, cuja simplicidade, e nobreza não admitte os adornos pueris do luxo, e que resistindo mesmo aos esforços do tempo, conserva ainda seo augusto caracter em uma veneravel caduci dade.

Diogo Teixeira de Macedo, tendo realisado a fortuna que possuia em Angola, e transportando-se para Lisboa, tocou em Pernambuco, donde seguindo, e effeituando a sua residencia naquella metropole da Monarquia, os acontecimentos politicos da Europa o fizerão deixa-la, e vir estabelecer-se pelo commercio em Pernambuco. Daqui passou-se ao Rio de Janeiro em 1809. Nesta vasta capital do Imperio Brasileiro aprendeo Alvaro Teixeira de Macedo as primeiras lettras; mas veio a Pernambuco a estudar o latim, e o soube frequentando a Aula publica desta disciplina, que davão no Recife os Padres da Congregação de S. Filippe Nery na Igreja da Madre de Deos. De Pernambuco passou-se a um collegio catholico em Londres, com dous Filhos do Negociante Antonio da Silva, seo padrinho de baptismo, e a quem seo desvelado Pai o recommendara. Quatro annos depois da entrada no Collegio, apresentou-se Alvaro no Rio de Janeiro, habilitado com todos os conhecimen

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