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Consorte. Em 7 de Dezembro de 1849 um dos costumados ataques, de que era atormentado, poz-lhe fim á existencia.

IV.

Alvaro Teixeira de Macedo foi casado com a Senhora D. Anna de Macedo, filha de Roberto Lucas, negociante de grosso trato em Lisboa, associado á primeira Casa de commercio dos vinhos de Portugal, e de boa Familia Ingleza, pois seo pai fora Deão de S. Paulo, uma das prebendas mais consideraveis de Londres.

Para viver feliz no casamento (diz o douto Yvon) não o effeitueis sem amar, e ser amado. Robustecei este amor fundando-o na virtude. Se elle não tem outro objecto, senão a belleza, as graças, e a mocidade; tão fragil como estas vantagens passageiras, elle passará bem de preça como ellas; mas se he vinculado ás qualidades do coração, e do espirito, permanece á prova do tempo. Destes meritos, e realces moraes de sua Esposa bemaventurava-se o amor conjugal de Alvaro Teixeira de Macedo; e elles tanto lhe enchião os olhos, que pelo modo mais publico, e duradouro os reconheceo, e proclamou. Na Festa de Baldo achareis esta exultação:

Feliz eu, que alcancei das mãos da Sorte
A Mulher que meo Baldo procurava !
Seo peito vai no rumo da Fortuna,
Complacente sorrindo a seus caprichos,
E grata qualquer bem alto louvando.
Feliz eu, que alcancei das mãos da Sorte
A Mulher que meo Baldo procurava!

Ah! Que ao transcrevermos estes versos o nosso coração commove-se, e suspira: Eu tambem fui ditoso! Mas o Anjo de ternura, e consolações, que o sereno Céo dispensou-me, o Céo m'o revocou, apenas passados tres annos. Ainda agora na viuvez melancolica de trinta e quatro invernos a sua lem

brança me he tão viva, e penetrante !.. Tão saudosa!.. Quão poucos instantes brilha o dia escasso da nossa vida!

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Alvaro Teixeira de Macedo sempre demostrou particular affeição á sua Provincia natal, e aos Amigos da infancia. A qual Pernambucano, que na Europa lhe aparecesse, deixou elle de comprazer, e prestar-se, não so com as attenções da urbanidade, mas com attractivo agasalho, e affectuosa alegria? Como poeta, elle amava tambem o fantastico, e sombrio, o terrivel do genero de Shakspeare, e de Milton, e versificou um episodio da primeira guerra dos Cruzados cheio de apparições de Fantasmas, que vinhão punir as infidelidades, e os crimes dos sobreviventes. Mas de continuo a produzir com facilidade, e gosto em todos os generos (cousa rarissima!) nunca se decidio a divulgar as suas obras. Salvo a poesia á Independencia, que o Diario de Pernambuco publicou, e a Festa de Baldo, nada mais delle consta que tivesse sahido do circulo de alguns amigos, a quem fazia elle mesmo a leitura; e até em seus ultimos dias destruio grande parte de suas lucubrações poeticas, a que não tinha ainda posto a ultima lima: entre ellas figuravão a traducção em verso da Tragedia Otello de Shakspeare, e um Drama em prosa, em que zurzia a um tempo os usurarios, e as loureiras.

Na Gazeta L'Independance Belge de 10 de Dezembro de 1849 se acha a seguinte descripção do seo funeral que he uma das provas brilhantes do excellente comportamento com que por toda parte elle soube conciliar affeições, e saudades.

Hoje a uma hora depois do meio dia tiverão lugar as exequias solemnes do Cavalheiro Alvaro Teixeira de Macedo, Encarregado de Negocios do Brasil junto ao governo Belga.

Dous batalhões do 5o regimento de linha sob o commando do Coronel Van Rode formavão escolta. A musica do 5o abria a marcha executando arias funebres. A casa do Rei era representada por duas carruagens em grande libré occupadas pelo general Dupont, ajudante de campo do Rei, e por um ajudante de ordens. No cortejo, além do senhor Hoffschmid, ministro dos negocios estrangeiros, e do Secretario geral do Minis

terio, notava-se o Nuncio Apostolico, os Ministros Plenipoten ciarios dos Paizes Baixos, e da Gran-Bretanha, da Prussia, da França, e do Imperio Germanico. O Ministro da Sardenha por doente fez-se representar pelo Secretario da Legação. Seguião-se o cavalheiro do Amaral, Encarregado de Negocios do Brasil em Paris, o Ministro Residente da Dinamarca, os Encarregados de Negocio da Suecia, Estados-Unidos, Hespanha, Turquia, e Portugal; os Secretarios, e Addidos da Nunciatura, e outras Legações; os Vice-Consules do Brasil em Antuerpia, Bruges, e Termonde; todos os Brasileiros residentes na Belgica, e uma longa serie de carruagens occupadas pelos amigos pessoaes do Defuncto, e por pessos relacionadas com o seo Paiz.

A Familia do illustre Finado era representada pelo Cavalheiro Siqueira, compatriota, e antigo Collega do senhor Macedo, assistido pelo doutor Cumier. Ambos elles estreitamente ligados com o Defuncto, tem cercado sua Viuva de uma dedicação acima de todo o elogio nos terriveis transes porque tem passado.

Os restos mortaes, precedidos do Clero, forão conduzidos á Igreja Parochial de San-Josse-ten-Noode, onde forão celebrados os officios, e depois inhumados no Cemiterio daquelle Municipio com as honras prescriptas pelo ceremonial diplomatico. >>

Alvaro Teixeira de Macedo foi certamente um dos homens que, na esfera diplomatica, souberão sustentar na Europa a dignidade, e estima do nome Brasileiro: a pensão de 800,000 réis, com que a Governo do Brasil, e a Assembléa Geral em remuneração dos seus serviços, agraciarão a sua Viuva, assella esta verdade. E se elle na rota diplomatica assim illustrou-se, tambem no Parnaso, considerado o seo Poema, o recebem contentes, e dão-lhe assento entre si, Gresset, Boileau, Pope, e Diniz.

DOCUMENTOS.

S. M. o Imperador tendo de nomear para Secretario da Legação em Vienna um individuo, que á aptidão, e zello pelo seo imperial serviço reuna um merecido conceito de sisúdez, de modo que em qualquer impedimento, ou ausencia que occorra do chefe daquella Legação, possa ficar o Secretario acreditado convenientemente como Encarregado de Negocios: Houve por bem nomear a Vmc., como se vê da copia inclusa do Decreto de 18 do mez corrente; e ordena que sem demora parta para o seo novo destino, por assim o exigir o mesmo imperial serviço. O que communico a Vmc. para sua intelligencia, e satisfação. Deos guarde a Vmc. Palacio do Rio de Janeiro 4 de Março de 1842.-Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho.-Senhor Alvaro Teixeira de Macedo.

Carta do Visconde Almeida Garret ao, doutor Alvaro Teixeira de Macedo.

Julho 21.

Illm. Sr. e Amigo.

Tardei em agradecer o mimo com que me distinguio, por que o queria avaliar bem, primeiro, e não queria escrever expressões banaes das que não merece uma pessoa de seo character, e que a mim me custa sempre a dizer ao mais indifferente.

Depois, no meio deste vortice de absurdos, em que aqui se vive, custava-me a conciliar attenção á cousa alguma.

A Festa de Baldo porem fez o milagre de me isolar por tal modo das realidades que me cerção, que lhe devo talvez as unicas horas agradaveis destes fataes dias que acabão de passar-não acabão, continuão.

Agradeço pois, por tantos motivos ao autor da Festa, o prazer que me deo; e peço-lhe que nos de mais vezes o gosto de estar em companhia de pessoas tão amaveis, tão cheias de razão, como o Sr. Baldo, e sua palreira, mas boa D. Clara, o Sr. Berto, e o proprio Vigario, que no seo genero não deixa tambem de ser excellente.

Todos elles me encantarão por tudo, e mais que tudo porque fallão razão, e senso, e a fallão em portuguez sincero, ornado sem exagerações, e puro sem os pedantismos que me cansão tanto nos nossos escriptores a la mode daquem, e dalem do Atlantico.

Aqui está o que eu senti na sua Festa; e com [lho dizer chamente satisfaço ao que me pedio, e dou a mim mesmo verdadeira satisfação, porque sou com a maior estima e constancia-De V. S. criado e amigo do coração.

Almeida Garrett.

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