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morbida. Os pobres cães são causa de terrores infundados, maxime pelo receio da raiva é a cinophobia.

Conheço pessoas intelligentissimas que possuem esta phobia, pai e filhos, varios irmãos ou membros da mesma familia que fomentam no espirito este absurdo.

O assumpto é inesgotavel, e poderia repetir-vos, talvez, algumas centenas de variedades de mêdo. Mães que não beijam os filhos com pavor de matal-os; esposas que temem a approximação com pavor de causarem a desgraça mutua; receios de corar pelos pensamentos máos (ereutophobia), mêdo de tudo, (panophobia) vago, incerto, angustioso, e mêdo de ter mêdo (phobophobia)!

Como a alma humana póde soffrer! Como no jardim das idéas brotam cogumelos tão feios e tão tristes! Ao viajante de almas, ao curioso das paizagens espirituaes morbidas basta ler as obras de Janet, de Feré, de Ribot para ver como as emoções systematizadas podem transformar-se em pavor, em angustias morbidas.

Se a alma humana soffre assim, como cural-a?
Nada mais facil e nada mais difficil.

As causas principaes da phoboneurose estão na educação, na debilidade nervosa, na exhaustão moral ou mental, na fraqueza geral do individuo e na má educação da vontade e da energia.

A condição essencial está na educação da criança: o timorato é futuramente um predisposto a phobias. A persuasão deve ser iniciada desde a infancia, de modo que as ameaças e os terrores se dissipem sempre da alma infantil. Não raro o internato é um excellente remedio porque sequestra o menino das pieguices do lar.

O problema dos adultos nos interessa mais de perto.

TRATAMENTO

Como a phoboneurose apparece nos debilitados, nos exgottados, convém tratal-os principalmente pelo repouso, pelos tonicos physicos, bom ar, duchas e os medicamentos nervinos apropriados.

Mas a grande cura reside na reeducação das emoções, na persuasão constante, porque a tendencia natural desses processos morbidos é para a cura. E', em synthese, a psychotherapia, o methodo therapeutico da logica persuasiva.

Dubois, Zbinden, Levy, Paignez e Camus, Dejerine e Gauckler têm-se esforçado para o triumpho definitivo da psychoterapia, systema que todo o homem de lutas, mesmo são, deve praticar comsigo mesmo. A psychotherapia é a escola das victorias moraes da vida, e das doenças nervosas de origem emotiva; a sua construcção nasce no raciocinio, na demonstração dos erros e das falsas interpretações perante os receios morbidos. Dubois, em um excellente livro ácerca da Educação de si mesmo, dá-nos as bases com que cada um deve aprender a lutar contra os moinhos de vento da imaginação morbida e dos desanimos da vida. O Barão de Feuchterleben, com a intuição dos grandes espiritos, já havia prescripto as regras essenciaes para os combates dos erros da alma.

O methodo persuasivo é altamente logico porque se origina da razão e não exclusivamente da suggestão. Convém ser feito pacientemente, constantemente, como o preceito latino da guta cavat lapidem. As maneiras violentas são in

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uteis: o seu fim está em despertar a energia, a vontade, não com reacções impostas e tyrannicas, mas com dialectica branda.

Os clinicos inexperientes, perante o mêdo pathologico, aconselham ao paciente "reaja reaja! o Sr. preciza reagir!"

Reagir como? se o estado emotivo não permitte raciocinios fortes; se a emoção é mais soberana que o pensamento ?!

O clinico ou o psychotherapeuta deve ter qualidades especiaes de carinho, de persistencia, de energia sem ser militarmente autoritario. Conheço esposos e esposas, irmãos e amigos que fazem muito mais para a cura dos phoboneuroticos que os medicos, porque a psychotherapia é intuitiva, e nada mais racional que combater falsos pensamentos, por palavras verdadeiras. Não raro são os confessores que ensinam a victoria dos escrupulos, dos mêdos pathologicos, e eu creio que muitas curas nasçam dos confissionarios.

E' utilissimo que o paciente acredite no medico, pois este não tem interesse em enganal-o. Cumpre que o phobico não duvide da palavra clara, preciza e competente do clinico no qual deposita confiança, e que adopte mais os conselhos dos medicos do que os proprios pensamentos errados que conduzem ao mêdo morbido.

Depois deste preceito, vem a necessidade do doente saber educar-se, isto é, fazer despertar em si a energia e a vontade que sempre existem e que apenas se acham adormecidas ou latentes. O individuo deve ensaiar a execução do facto, ou promover a vista de objectos que lhe causam angustia. E' o unico meio de livrar-se dos medos atormentadores. Se ha receio de subir ou atravessar OS arcos de Santa Thereza, é indispensavel lá ir, a principio acompanhado, depois soŝinho, procurando desviar o pensamento do perigo, não por esforço supremo, mas por idéas substitutivas. Se ha horror á comida, o medico ou alguem deve provar a innocencia e a necessidade dos alimentos e que os symptomas sentidos são apenas expressões reflexas de uma dispepsia, que é de base nervosa.

Aos que tenham receio de pegar em objectos cortantes, é conveniente mostrar-lhes a innocencia delles e se alguem possue no meio familiar supremacia moral, que os obrigue a segurar em facas, tesouras, provando-lhes que nenhum mal advém disto, porque as idéas morbidas não se transformam em actos. Estes ensaios devem ser feitos todos os dias, varias vezes no dia, obedecendo ao mesmo principio de constancia e de paciencia.

Aos medrosos de tempestades, ventos, raios, relampagos, trovões, somos obrigados á persuasão mais energica, pois nem sempre ha tempestades para nossas demostrações.

Devemos abrir as portas, olhar serenamente a luta brilhante e caprichosa dos elementos meteorologicos. Os ventos e os raios raramente produzem maleficios, que os ha mais facilmente no attricto da civilisação que nas conflagrações ordenadas por Eólo, por Jupiter ou Vulcano.

⚫ Creio mesmo covardia da alma humana quando teme a natureza, que é nossa protectora perenne, nossa mãe carinhosa; que ás vezes nos ameaça com OS trovões e coriscos, mas não por mal, e sim por brincos, e para nosso beneficio.

As regras da psychotherapia, meus senhores, são infinitas; para cada caso imaginaremos um processo especial. Mas digamos, em linhas geraes, os alicerces da cura. Educação do espirito infantil, afugentando-o do mêdo. No adulto, si ha cansaço - repouso; si debilidade geral e nervosa, tonicos physicos e muito poucos remedios. A psychotherapia persuasiva é a essencia do tratamento; demonstrar sempre, pacientemente, o infundado dos temores,

com o raciocinio e não com as imposições ou suggestão dominadora, seguindo o velho preceito: "vamos devagar, que eu tenho pressa".

A felicidade humana está na realização dos desejos, na energia da vontade e na disposição alegre para o trabalho. Todo o homem para ser feliz é preciso aprender a saber querer, para dominar as suas commoções, os exaggeros da personalidade; este dominio absoluto é impossivel, mas conduz mais ou menos á perfectibilidade. Os homens que nos parecem mais serenos são sempre os mais emotivos; são victoriosos porque sopitam os estados explosivos e os impulsos. Convém, pois, para os triumphos da vida a educação dos sentimentos e dos pensamentos. Tudo em começo é difficil; 0 uso do cachimbo, porém, faz a boca torta; a repetição do acto consciente passa para o sub-consciente. Assim como o primeiro cigarro embriaga, o primeiro calice de licor tonteia, tambem a execução do acto que nos causa mêdo ou angustia, embriaga, tonteia. Repitamos o cigarro, a bebida, e o habito apparece. A repetição daquilo que nos causa pavor termina em habito. Tenho assistido a centenas de curas por este processo que deve ser paulatino, dosado, logico, suave e persuasivo. Em questões de phobias e de neuroses todo o mundo póde ser medico de si mesmo, ou então qualquer pessoa de certa ascendencia moral poderá, depois da palavra do clinico, orientar a cura dos soffrimentos infundados de milhares de homens.

Julgo quasi uma covardia humana ter mêdos vãos, infundados. Devemos amar a natureza, que nos dá o encanto das paizagens terrenas e que é a fonte fecunda de todas as inspirações artisticas, e nunca temer os elementos na turaes. O pensamento é uma quantidade neutra que tanto póde ser conduzida para o bem como para o mal. Conduzamol-o sempre para as boas idéas, e abandonemos o pessimismo, o mêdo, a pusilanimidade psychica, que ennegrecem a alma e que perturbam a eurythmia da vida.

Vençamos a infelicidade, que é um preconceito; fujamos da neurose do mêdo, que é evitavel; façamos como o grande philosopho Leibnitz, que vencia os soffrimentos physicos evocando idéas alegres.

O pensamento phobico é uma criança teimosa, que com algum geito poderemos conduzir para todos os logares; é questão de paciencia, tacto, persistencia e confiança. Concluo, meus senhores, que as phobias são curaveis, dependendo tudo dos methodos a empregar. Umas curam-se subitamente, outras vagarosamente, mas todas se curam, eu vos affirmo.

O COMMERCIO E AS LEIS COMMERCIAES DO BRASIL

CONFERENCIA REALISADA A 20 DE SETEMBRO DE 1915, PELO DR. INGLEZ DE SOUSA

Não desejo iniciar o meu discurso repetindo o conceito vulgar de que o commercio e a civilização caminham com passo egual, se o commercio não é a propria civilização em movimento generalizado.

O inicio do progresso commercial coincide com o declinio da actividade guerreira, e os documentos mais antigos patenteiam a relação intima entre neutralidade e mercado, associando a idéa do commercio á astucia e rapacidade que a moral primitiva legitimava, por ser um modo de guerra ao extrangeiro, pois a forma mais antiga do commercio foi a externa, sobretudo por mar, a principio em empresas armadas e piratarias, depois em viagens pacificas, sempre com graves riscos e perigos, que se compensavam com lucros de quinhentos por cento ou maiores, segundo nos dizem as maravilhas dos contos arabes. Tudo quanto sabemos da alta antiguidade refere-se ao trafico entre povos ou tribus diversas, a expedições longinquas, ao commercio maritimo do Sydon, do Tythro e da Carthago, ou dos paizes quasi fabulosos da India e da China. Os Phenicios fazem do Mediterraneo um mar phenicio. Melkarth, o Hercules phenicio, tenta a conquista da Iberia depois de haver submettido a Africa, e transpõe o estreito. Os navegadores phenicios sobem o Atlantico e, a dar acolhida a fantasias geradas de complascentes etymologias, tel-o-iam atravessado e enfiado pelo Amazonas a dentro. O Velho Testamento menciona, no Livro dos Reis, a viagem ao paiz de Ofir, de uma frota equipada por Salomão em Asiongaber, perto de Ailate, á praia do Mar Vermelho, em terras da Iduméa.

Nella foram marinheiros phenicios e hebreus que de Ofir levaram 420 talentos de ouro, muitos páos odoriferos, que depois jámais se viram, e pedras preciosas. Fazia-se de tres em tres annos uma expedição a Tarcis, de onde vinham ouro e prata, dentes de elephantés, bugios e pavões. Onde fosse realmente Ofir nenhum sabio ainda o demonstrou de modo convincente; alguns a collocam na America, no Mexico ou no Perú, outros em Africa, talvez fosse a antiga Sofala, em Moçambique. Certo padre francez pretendeu provar que Ofir era o nosso rio Japurá, onde ha ouro, sandalo, pavões e macacos, e talvez seja o unico sitio do globo que se gabe de tão variada producção. Já se sabe que o fundamento da hypothese, formulada pelo padre, é a etymologia, fertil em argumentos que se queiram. O commandante da frota, enviada por Hirão, ou por este mesmo governada, buscava cousas raras e preciosas para

o Rei Magnifico de Israel, com que ornasse o Templo e o Palacio e as casas de recreio de Mello e do bosque do Libano; sob os auspicios do filho de David

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