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mes de alguns Lusitanos benemeritos das Le tras, dos quaes o primeiro foi salvo da injuria dos tempos pelo nosso zeloso e incançavel Brito, que, escrevendo do governo do Impe rador Vespasiano, diz assim: (a) « Floreceo em tempo deste Imperador um Lusitano, por nome Daciano, grande philosopho, e sobre tudo poeta insigne, cujas virtudes e grande erudição louva o poeta Marcial (7,a) em um epigramma, e Gregorio Libio, dizendo que foi natural de Merida » (8.), E' o segundo Cayo Allio Januario, natural de Beja e Ju Lia Saturnina, dignos ambos de reputação, e de serem elogiados por sua pericia Medica, segundo aponta o Academico José Maria Soares nas suas Memorias para a Historia da Me dicina Lusitana, apoiado no testemunho de Masdau.

Assim como nas Letras e nas Sciencias, foram igualmente omissós os escriptores do tempo em transmittirem á posteridade os nomes dos Lusitanos, que, durante os dous primeiros Seculos da E. C. mereceram ser-lhe recommendados por sua pericia nas Bellas-Artes folheando porêm a Historia de Portugal de Mr. De la Clede, lá fomos dar com um nome, que neste genero de merecimento não deve ficar esquecido: eis as palavras do illustre Historiador : « O valor era natural aos Lusitanos; mas não era esta a unica prenda, que os fazia recommendaveis: igualmente o e

(a) Monarch. Lusit, Part. II. Liv. 5. cap. 9.

rão pelas Artes e Sciencias, que cultivavão, e em que fazião rapidos progressos. Marco Arterio teve grande nome na Sculptura no tempo de Trajano » (a). Pelo correr deste mesmo Periodo entendemos se fèz igualmente notavel por sua extremada pericia na Architectura Gaio Sevio Lupo, natural de Aguas Flavias (hoje a Villa de Chaves), muito embora fóra dos limites do territorio da Lusita nia, debaixo de cuja direcção foi levantada a famosa torre ou farol, denominado de Capião, vulgarmente dito de Hercules, o qual ainda hoje existe junto á Corunha, como consta da inscripção gravada em uma penha distante mais de oito varas da mencionada torre.

O terceiro Seculo depois do nascimento de Christo apresenta o fim da Litteratura profa→ na, e o começo da Litteratura Christaa, é pocha importante, demarcação famosa, de um lado assignalada pela anarchia e decadencia do Imperio Romano, e do outro pelo vir tuoso enthusiasmo de uma Religião persegui da, e pelos segredos da Divina Providencia. Neste seculo, seja dito com magua, não en contrâmos memorias de homem algum, `com as quaes nos seja dado adornar os fastos da nossa Litteratura.

Corre todo o quarto Seculo, sem que a liberalidade dos escriptores extrangeiros daquella idade se digne de honrar-nos com o

(a) Tom. I. Liv. 2. pag. 194 da traducção Portugueza.

nome de escriptor où de sabio algum da nossa Nação é todavia indubitavel, que neste mesmo Seculo havia, pelo menos entre os primeiros Pastores da Igreja Lusitana, alguns dotados de boa instrucção em materias de Religião, e para o asseverarmos, não é para nós de piqueno pezo a autoridade do respeitavel Bispo de Beja, depois Arcebispo de Evora, nas suas já citadas Memorias do Ministerio do Pulpita, Part. II. §. 8., onde diz: « Dentro mesmo das nossas Provincias teriamos as Aulas, donde sahirão Ministros do Senhor de tanta dignidade, como forão os Bispos, que nos principios do Seculo quarto assistirão ao IHiberitano, no qual subscreverão Vicente de Ossonoba, Liberio de Merida, Januario de Alcaçar, e Quinciano de Evora. Os Prelados d'aquelle tempo fazem boa fé da instrucção do Clero. Distavão ainda os Seculos de ocio e de barbaridade. Não falando da erudição dos Padres d'aquelle celebre Concilio, que se mostra pela variedade das Materias, que nelle se tratárão, elles devião ser eloquentes pela necessidade de converterem, e ensinarem os Pagãos.... O que fica dito, não obstante ser de linguagem potencial, determina o juizo, sem fazer injuria á sinceridade da Historia ".

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Aos nomes dos quatro Prelados, mencionados no logar extrahido das Memorias do Ministerio do Pulpito, podemos tambem acrescentar o do Papa S. Damaso, Vimarepense, sendo que ainda assim mesmo não fal

tou quem pretendesse roubar-nos esta preciosidade Foi S. Damaso varão tão illustre por suas virtudes, como benemerito da Litteratura por seus escriptos Theologicos, e poeticos, com os quaes se ennobreceo a si, e ao paiz que lhe deo o berço. O de S. Martinho, Ar cebispo de Braga, a quem foi devida a conversão dos Suevos, com o seu Rei Theodomiro, abjurando o Arianismo. Escreveo este Santo Arcebispo Tratados conducentes á re forma dos costumes, do que nos dão testemunho as Memorias citadas,

PERIODO II.

Desde os principios do Seculo V. da E. C. até o anno de 714,

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Desde a invasão dos Godos até à dos Sarrace nos na Hespanha.

O quinto Seculo começa com o governo dos Godos na Hespanha, os quaes trazendo na frente dos seus esquadrões a barbaridade e a ignorancia, expulsaram para longe dos paizes, que invadiram, as luzes e as sciencias: o que obrigou a escrever ao nosso D. Fr. Amador Arraes, falando ácerca das Letras na Hespanha, durante aquella dominação barbara, as seguintes bem pensadas expressões : «Succedeo depois o tempo dos Godos, no qual, como erão ferozes barbaros, pouco christãos, e inimigos das Letras, não sabemos com certeza o que passou, ao menos na nossa Lusitania. Vingárão-se as Letras delles, e ficou sua gloria escurecida, e seus feitos e victorias enterradas, como indignas de memoria » (a). (9.).

(a) Dialogo 4. cap. 19.

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