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mo temos um singelo testemunho nas palavras seguintes do já citado Arraes (a). « Tanto tiveram os nossos que entender nesta miseravel perseguição, que nenhum teve ocio para escrever historia; nem havia para que a escrever, senão para referir desaventuras, e renovar suas magoas: nem os Mouros mereceram, que algum Christão fizesse memoria de suas abominações em historia sua ». (18,a) Neste calamitoso Periodo talvêz as Letras viriam á sua ultima ruina, sem o asilo dos Claustros, que escaparam ao ferro e fogo dos barbaros vencedores pelo interesse dos tributos; e apenas a provincia do Minho, que começou a respirar do seu cativeiro nos principios do Seculo IX. pelas armas victoriosas dos Principes Catholicos, vio alguma apparencia de restauração das Letras Sagradas na do Instituto monastico. A piedade dos Senhores Lusitanos contendia gloriosamente com a impie-, dade dos invasores, levantando das ruinas os Mosteiros, para mantêr a Religião, e desterrar a ignorancia, que tão perniciosa lhe é. Por isso vemos tantos destes Mosteiros funda-, dos ou restabelecidos do Seculo IX. até o Seculo XII., tempo em que uma boa parte da Lusitania gemia debaixo do jugo do Alcorão.

Já quasi porêm no fim deste Periodo começavam as Letras a querer levantar-se do, abatimento, em que por tanto espaço haviam jazido entre nós : Por quanto, segundo teste

. (a) Dialog. 4, cap. 20.

munha o erudito João Pinto Ribeiro no sett excellente Discurso, que intitulou Preferen→ cia das Letras ás Armas, no qual allega com o Chronista Fr. Antonio Brandão (a), havia já em Portugal estudo de Sciencias no gover no do Imperador D, Afonso de Portugal e Castella, Pai da Senhora D. Thereza ou Thereja, mulher do Conde D. Henrique : « Entre o estrondo e confusão das armas (formaes palavras de João Pinto Ribeiro) não se des cuidárão os Principes Portuguezes de amparar, e favorecer as Letras, sem as quaes entenderão não haver Republica, que se podesse governar. A esta conta o Conde D. Sisnando, logo que recuperou o Senhorio e governo de Coimbra, instituio nella hum Seminario, em que se creassem môços, que alu meassem, e illustrassem o Reyno com a Sciencia ». E o citado Brandão, falando de D. Pa→ terno, primeiro Bispo de Coimbra, depois de restaurada da sujeição dos Mouros, escre ve sôbre o mesmo assumpto as seguintes palavras : "O sobredito Bispo com recado delRei (D. Afonso VI. de Leão), e do Consul (D. Sisnando) dêo ordem a um Seminario de môços na propria Sé Episcopal e Igreja de Santa Maria da mesma Cidade; a estes determinou, e foy dispondo para receberem o gráo do Presbyterio »,

Por taes testemunhos pois fica sendo constante, que neste mesmo tenebroso Periodo já

· -(a) Monarch. Lusit. Part. III. Liv. 8. cap. 5.

na tão illustre cidade de Coimbra havia est cholas de Boas-Letras, nas quaes se formava a mocidade Portugueza, e que era como o preludio daquellas, que em eras mais descançadas haviam de engrandecer e aformosear a nossa Athenas Lusitana.

No espaço de 425 annos, comprehendidos entre a épocha da invasão dos póvos da Mauritania e a seguinte do glorioso começo da nossa Monarchia, é pois fóra de duvida que existiram em Portugal cultores das Letras distinctos, e até escriptores, dos quaes não coThe piqueno lustre a nossa gloria litteraria, maiormente em um tempo, em que quasi tudo na Europa eram trevas e barbaridade.

Dá noticia dos escriptores e sabios Lusita nos deste Periodo o Catalogo dos monumentos Arabico-Hispanos, que existem na Bibliothe ca do Escurial, feito por D, Miguel Castri, e impresso ém dous volumes de folha em 1760, e 1770, no qual vem apontados muitos Por tuguezes, que floreceram, particularmente em Poesia, no tempo da dominação dos Arabes nas Hespanhas e de não poucos nos informa tambem o extracto da Historia, conservada pelo citado Casiri, que compôz Abu Baker Alcodad Ebn Alhabar, natural de Valença no XIII. Seculo, intitulada Vestis Serica, sc, Virorum genere et dignitate illustrium, qui apud Hispanos Poeseos laude claruerunt: e no Catalogo, que este mesmo escriptor Arabe tece das Bibliothecas Arabes na Hespanha, enumera elle, entre muitos escri

ptores Hespanhoes, vinte e cinco Portugue zes (19.), cujos nomes, patria, e qualidade de seus Escriptos se podem ver no citado Casiri, Tomo primeiro (a).

Apontaremos aqui apenas os nomes de tres escriptores, que deram tal qu qual lustre á Litteratura Portugueza no espaço de tempo, por que vamos discorrendo: e não obstante sabermos, que destes mesmos os dous ultimos são havidos por incertos na opinião de muitos criticos, sem intrometter-nos em suas eruditas controversias, fazemos delles memoria com esta previa correcção, por andarem os nomes dos ditos Autores em alguns livros nossos, não dignos de desprezo: E são os tres nomes os seguintes, Isidoro Pacense, que escreveo Historias (20.a), Angelo Pacense, autor das vidas de muitos Santos Portuguezes (21,a), e Laymundo Ortaga, narrador de antiguidades (22.a),

(a) Vid. Memoria IV. Para a Historia da Legislação e Costumes de Portugal por Antonio Caetano do Amaral no Tom. 7.o das Memorias de Litteratura Portugueza da Academia Real das Sciencias de Lisboa, pag. 102, Nota (86).

mm

PERIODO IV.

Desde o anno de 1139, até o de 1290,

ou

Desde a gloriosa Acclamação d'Ourique, até a fundação da Universidade Portuguesa.

e

Vai offerecer-se á nossa consideração um dos mais bellos Periodos, que os Annaes da Nação Portugueza nos apresentam, Periodo a que dá principio a gloriosa Acclamação do Fundador da Monarchia no anno de 1139 donde podemos começar a datar com maior abundancia e certeza as illustres memorias para a nossa Historia Litteraria. Verdade é, que Manoel de Faria e Souza, falando do governo do Senhor D. Afonso Henriques, diz assim«Las Letras no andavan aora tan validas » (a); mas como podia ser de outra sorte, achando-se ainda grande parte de Portugal em poder dos Mouros, tenazes em disputarnos a posse de um tão delicioso paiz, consolidada por mais de quatro Seculos de dominação, e que por isso mesmo obrigavam os Portuguezes a nunca interrompidas pelejas? O

(a) Epitom. Part. III. cap. 2.

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