SONETOS.
A chaga que, Senhora, me fizestes A formosura desta fresca serra A morte, que da vida nó desata A peregrinação d'hum pensamento A perfeição, a graça, o doce geito A violeta mais bella amanhece
del Tajo, en claro dia
Acho-me da fortuna salteado
Agora toma a espada, agora a penna (*) Ah Fortuna cruel! ah duros Fados Ah minha Dinamene! assi deixaste Ai amiga cruel! que apartamento Alegres campos, verdes arvoredos Alegres campos, verdes, deleitosos. Alma gentil que á firme eternidade Alma minha gentil que te partiste Amor, com a esperança ja perdida Amor he hum fogo que arde sem se ver Amor, que em sonhos vãos do pensamento: Amor, que o gesto humano na alma escreve Aos homens hum só homem poz espanto
(*) Conjectura Faria e Sousa que este Soneto fosse feito a seu avô Estacio de Faria, amigo de Camões, e como elle poeta e soldado.
Apartava-se Nise de Montano Apollo e as nove Musas, descantando . Aponta a bella Aurora, luz primeira Aquella fera humana que enriquece Aquella que de pura castidade. Aquella triste e leda madrugada Aqui de longos damnos breve historia Ar, que de meus suspiros vejo cheio. Árvore, cujo pomo bello e brando Ay! quien dará á mis ojos una fuente Ayúdame, Señora, á hacer venganza
Bem sei, Amor, que he certo o que receio Brandas agoas do Tejo que passando (*) Busque Amor novas artes, novo engenho
Ca nesta Babylonia donde mana. Campo! nas syrtes deste mar da vida Cantando estava hum dia bem seguro Chara minha inimiga, em cuja mão . Chorai, Nymphas, os fados poderosos Coitado! que em hum tempo chóro e rio Com grandes esperanças ja cantei. Como fizeste, ó Porcia, tal ferida?
Como louvarei eu, Seraphim santo
Como podes (oh cego peccador!). Como quando do mar tempestuoso Con razon os vais, aguas, fatigando Contente vivi ja vendo-me isento Conversação doméstica affeiçoa Correm turbas as agoas deste rio
Crescei, desejo meu, pois que a Ventura Criou a natureza Damas bellas
Cuanto tiempo ha que lloro un dia triste
(*) Este Soneto anda impresso nas Rimas de Diogo Bernardes, que
Dai-me hua lei, Senhora, de querer-vos De amor escrevo, de amor trato e vivo De Babel sobre os rios nos sentamos De cá, donde somente o imaginar-vos De frescas belvederes rodeadas De mil suspeitas vãas se me levantão De quantas graças tinha a natureza. De tão divino accento em voz humana (*) De vós me parto, ó vida, e em tal mudança Debaixo desta pedra está metido Debaixo desta pedra sepultada Deixa, Apollo, o correr tão apressado Desce do ceo, immenso Deos benino. Despois de haver chorado os meus tormentos Despois de tantos dias mal gastados (**) Despois que quiz Amor que eu só passasse Despois que vio Cibele o corpo humano (***) Diana prateada esclarecida
Ditosa pena, como a mão que a guia (†)
Ditosas almas que ambas juntamente
Ditoso seja aquelle que somente Diversos dões reparte o ceo benino Divina companhia que nos prados Dizei, Senhora, da belleza idea. Doce contentamento ja passado. Doce sonho, suave e soberano Doces e claras agoas do Mondego. Doces lembranças da passada gloria
(*) Em resposta ao Soneto: "Quem he este que na harpa Lusitana." (**) Bernardes imprimio este Soneto como seu e é o 77 nas suas Ri- mas, aindaque os sens mesmos contemporaneos o julgavão de Ca- mões, imprimindo-o na primeira ed. de suas Rimas.
(***) A D. Rodrigo Pinheiro, que foi Bispo do Porto, segundo conjec- tura Faria.
(+) A Manuel Barata, famoso professor de Calligraphia no seculo XVI, publicando a sua Arte de escrever em 1572.
Dos antigos Illustres que deixárão. Dos ceos á terra desce a mor belleza Dulces engaños de mis ojos tristes
Em Babylonia sôbre os rios quando Em flor vos arrancou de então crescida (*) Em formosa Lethea se confia Em huma lapa toda tenebrosa
Em prisões baixas fui hum tempo atado Em quanto Phebo os montes accendia Em quanto quiz fortuna que tivesse En una selva al dispuntar del dia
Erros meus, má Fortuna, amor ardente Esforço grande, igual ao pensamento (**) Espanta crescer tanto o crocodilo Esses cabellos louros e escolhidos. Está o lascivo e doce passarinho Está-se a Primavera trasladando Este amor que vos tenho limpo e puro Este terreste caos com seus vapores
Eu cantarei de amor tão docemente
Eu cantei ja, e agora vou chorando
Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo Eu vivia de lagrimas isento
Formosos olhos, que cuidado dais. Formosos olhos, que na idade nossa Formosura do ceo a nós descida Gentil Senhora, se a Fortuna imiga
(*) Á morte de D. Antonio de Noronha, morto em hum recontro com os Mouros, junto a Ceuta em 1553.
(**) A sepultura de D. Henrique de Menezes, septimo Governador da India, fallecido em Goa no anno de 1526.
Grão tempo ha ja que soube da Ventura Guardando em mi a sorte o seu direito.
gozado bem em agoa escrito Horas breves de meu contentamento Hum firme coração posto em ventura (*) Hum mover de olhos brando e piedoso Huma admiravel herva se conhece
Illustre e digno ramo dos Menezes (**) Illustre García, nombre de una moza Imagens vãas me imprime a phantasia Indo o triste pastor todo embebido
Ja a roxa e branca Aurora destoucava Ja cantei, ja chorei a dura guerra Ja claro vejo bem, ja bem conheço Ja do Mondego as agoas apparecem (***) Ja he tempo, ja que minha confiança . Ja me fundei em vãos contentamentos Ja não sinto, Senhora, os desenganos Julga-me a gente toda por perdido Las peñas retumbaban al gemido Leda serenidade deleitosa
Lembranças de meu bem, doces lembranças Lembranças, que lembrais o bem passado Lembranças saudosas, se cuidais. Levantai, minhas Tagides, a frente (†)
(*) Este he tambem hum dos Sonetos que Bernardes publicou por seus, e que Faria achou nos M. S. que continhão obras de Camões. (**) Diversos forão os cavalleiros deste apellido que servirão com distincção na India no tempo de Camões. Suppomos que o So- neto foi feito a D. Fernando de Menezes Baroche, que passou á India com seu Pae o Viso-Rei D. Affonso de Noronha, na mesma nao em que ia Camões, onde naturalmente contrahirão amizade; pois este fidalgo foi encarregado por seu pae no anno de 1554 de ir curzar com uma armada no Estreito.
(***) Tambem este Soneto anda nas Rimas de Bernardes. (†) A D. Theodosio de Bragança.
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