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Ante os muros de Troia fumegantes,

Pélides furioso

Pêla morte do amigo bellicoso

Mais estragos não vibra, nem ruinas;

Nem o Aquilão fremente,

Que o pégo marulhoso revolvendo,

Vai montanhas de espuma ao céu erguendo.

Brava procella
Tudo atropella;
Ao belga forte
Flumine a morte,
E o meu Negreiros
Co'os brazileiros
Augura cheio de glória
Em seus brios a victória

Por cem boccas de fogo devorante,
Vulcão impetuoso,
Vomita o bronze atroador e forte,
Por entre denso fumo a negra morte;
E o nitridor ginete atropellado
Respira fogo em sangue misturado.

O vibrado corisco, tripartido
Pêla dextra divina,

Ou subita estalando occulta mina,
Tão rapida não é, nem tão ligeira,
Como o nosso Camillo,
Que leva enfurecido ao marcio jogo
Fogo no coração, nos olhos fogo.

Prova, ó tyranno,
Pernambucano
Valor preclaro:
Negreiros caro
Consegue o loiro
De heroes thesoiro,
Conservando a invicta espada
No teu sangue inda banhada.

Será preciso, ó musa, que sigamos
O heroe a toda a parte?
Que ao Rio Grande vamos e á Bahia,
Onde calcou Vidal a força impía
Do tyranno hollandez, que ao seu aspeito
Sente o sangue gelar no duro peito?

Descancemos do claro Paraíba

Na margem abundante,

Onde brinca favonio susurrante;
Brilhe tambem na vasta redondeza

Ésta illustre cidade,

Patria feliz do impavido Negreiros,
Terror do belga, amor dos brazileiros.

Porém em tanto
Suspende o canto;
Do teu auriga
A dextra amiga

Confia o leme;
O cysne teme
Que do heroe cantando a glória,
Talvez lhe manche a memória.

A D. Antonio Filippe Camarão, natural de Pernambuco, e seu restaurador em 1654.

Dulcisono instrumento,

Que de claros heroes levaste o nome

Ao alto firmamento,

Quando o cantor do Ismeno

O plectro audaz vibrava;

Eleva agora ao templo da memória

Novo heroe, que brilhou no céu da glória.

De sacro enthusiasmo arrebatado

Além da humana esfera,

O argivo cisne, em metro não ouvido,
Celebra o combatente,

Que o bravo corredor domou valente;
Ou nos pitios combates valoroso
Otriumpho colheu victorioso.

No Pegaso, correndo o vasto campo
Dos nobres feitos do brazilio Marte,
Vou colher sem demora
Flores em toda a parte,

E tecer-lhe depois em Dirce bella,
Ao brilhar do meu canto, uma capella.

D'entre larga espessura, Ouvindo a voz da patria, a quem opprime

A tyrannia dura,

Sái Viriato forte,

Invicto lusitano,

E, clamando vingança e liberdade,
Resôa a voz na etherea immensidade.

Qual da Sicilia o monte pavoroso,
Que, chammas vomitando,

Entre nuvens de fumo tudo abrasa;
Qual Boreas furibundo,

Que, aberta a porta ao carcere profundo,
Com estampido atroador soando,
Vai as altas montanhas abalando.

Tal Viriato, a patria defendendo,
O Quirino soberbo desbarata;
E, tigre furioso,
Fere, atassalha e mata.

O imperio quirinal ao vêl-o geme,
De susto cheio o capitolio treme.

O Camarão potente,
Indio famoso, illustre brazileiro,

Negro Aquilão fremente,
É, dest'arte, que busca
O bátavo em Goianna;

E um dia inteiro em horrida batalha,
Chovendo mortes, o inimigo espalha.

Tanto valor não tem, constancia tanta,

O grande heroe troiano, Quando, montado no veloz ginete,

Pêla patria peleja:

Troveja mortes, damnos mil troveja;
Brilha o ferreo pavez auribordado,
Açoita as ancas o cocar doirado.

Patrocolo denodado, que atrevido
Ante os muros troianos apparece,
Cedendo ao braço duro,
Succumbe, desfalece;

E o bravo heroe, inda apesar dos annos,
Marcha na frente dos heroes troianos.

O Scipião famoso,
O belga em Santo Amaro derrotando,
Cinge o loiro ditoso,
Seu aspeito annuncia
A fugida ou a morte

De um lado a outro qual peloiro voa,
Sôa a victória quando o bronze sõa.

Mais velozes não foram na Sicilia
De Pompeu os triumphos,
Que avassallou innumeras cidades,
Com deshumano estrago:

Nem do heroe, que de glória encheu Carthago,
E que, sendo o terror da invicta Roma,
Flaminio, Scipião, Marcello doma.

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